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Tragédia americana

 

Tomo de empréstimo o título de romance de Sinclair Lewis, se não me engano, pois li o romance há muitos anos. O que acaba de ocorrer nos Estados Unidos foi, exatamente, uma tragédia americana, que abalou o orgulho da grande potência de nossos tempos.


A tragédia é o irremediável. Foi o que aconteceu. Milhares de mortos, milhares de propriedades destruídas, riquezas consideráveis arrasadas, fábricas, casas comerciais, museus, ruas e praças, tudo por terra, ou levado pelo furor do furacão Katrina. O presidente George W. Bush demorou mais do que devia em enviar forças armadas que protegessem os bens e a vida dos moradores.


Émuito possível que o governo americano e o governo do estado não resolvam reedificar a cidade que desapareceu, mas estão ali as raízes de velhas tradições americanas, inclusive da Louisiana, que era uma cidade tipicamente francesa e foi vendida aos Estados Unidos. É triste ver uma cidade de tantas tradições e de tantos apelos ao passado desaparecer. Era um florão latino da França, de suas tradições monárquicas reais e brilhantes, de suas literaturas, do pensamento dos grandes homens do saber, vinculados a Nova Orleans, título de uma das casas principescas da velha Gália.


As catástrofes do vulto no qual destruiu a cidade são imprevisíveis e quando rebentam nenhuma força pode detê-las. Ainda que todo poderoso, os Estados Unidos não teriam recursos para impedir.


Como amigos dos EUA, a quem nos ligam tantos laços de apego e de solidariedade, manifestamos profundamente tristes pesares como o que ocorreu na vida da nação à qual muito deve o mundo democrático.




Diário do Comércio (São Paulo) 09/09/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 09/09/2005