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Sonho e realidade

 

Até os brasileiros mais desligados sonham com um país mais forte e desenvolvido. Sem as desigualdades sociais e culturais que marcam a nossa grande sociedade. Daí a consciência da realidade é uma outra coisa.


Temos um novo Governo, saído das urnas e marcado pela esperança. O presidente Lula deu um puxão de orelhas no ministro Cristovam Buarque, em virtude dos sucessivos pedidos deste por mais verbas. Chegou a usar o ditado popular: "O apressado come cru".


De fora, mas conhecendo as agruras da educação brasileira, ficamos sem entender muito as razões do pito presidencial. Não se trata de querer o impossível, mas fazer o que está ao nosso alcance para modificar essa situação de imensa precariedade. Qualquer ministro da educação, com o mínimo de consciência da sua responsabilidade, faria o que fez Cristovam Buarque, diante da certeza de que os recursos financeiros (menos 1 bilhão do que o orçamento do ano passado) são rigorosamente insuficientes para enfrentar os grande projetos divulgados: Brasil Alfabetizado (para tirar da ignorância 17 milhões de pessoas); A Nova Universidade (trabalhar a qualidade do ensino, com professores motivados e mais bem remunerados) e A Escola Ideal (objetivo a ser alcançado em todos os graus de ensino, tomando como exemplo os estabelecimentos públicos de ensino).


Temos em vigor o Plano Nacional de Educação, aprovado pelo Congresso Nacional, mas que merece inúmeros reparos; somos orientados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), exigindo uma ampla reformulação, até mesmo para enquadrá-la aos novos tempos prometidos; e a realidade nua e crua é cada vez mais perversa: escolas desprovidas de equipamentos, professores desrespeitados em sua dignidade profissional e salarial, alunos desnutridos e desinteressados, algo como se estivéssemos em pleno caos.


Isso cria o clima favorável à proliferação da violência, hoje quase uma epidemia. Filhos matam pais, pais matam filhos drogados, vive-se um inacreditável inferno - e a escola sem dar as respostas adequadas. Ao contrário, em algumas delas o tóxico tem presença garantida, como se fosse disciplina a ser também estudada. Onde vamos parar?


Temos 250 mil escolas e cerca de 50 milhões de estudantes. Cuidar desse imenso contingente é tarefa de gigante, mas que precisa ser enfrentada. Quando se toma conhecimento que os alunos da quarta série fundamental, em sua maioria, terminam o segmento sem saber ler, escrever e contar direito, o que se pode esperar do futuro?


Na oitava série, a maioria, que passou milagrosamente, não consegue interpretar de forma adequada os textos lidos. Prova mais que evidente de que as campanhas oficiais de doação de livros didáticos ou não padecem de uma precariedade abissal, fruto da pressa de mostrar resultados, o que também pode ser entendido como demagogia, sem que os professores tenham sido preparados para o seu emprego. De que adianta inundar o mercado de livros (sem entrar no mérito da discutível escolha) sem que os mestres saibam antes o que fazer desse precioso insubstituível instrumento cultural?




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) em 14/07/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) em, 14/07/2003