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Sobe Marilyn, desce Elizabeth

 

Há pouco ("Sobe e desce, desce e sobe", 3/11), propus aqui que alguns filmes e diretores de cinema pareceram "melhorar" com o tempo e outros "pioraram". Queria dizer que os que hoje vemos como filmes clássicos e mestres do cinema não tinham todo esse prestígio na ativa, ao passo que os clássicos e mestres do passado estão hoje esquecidos. Pensando melhor, concluí que isso não aconteceu —nós é que mudamos, para melhor ou pior.

Um leitor perguntou se isso se aplicaria também a atores e atrizes. Sem dúvida. Quem diria, por exemplo, que a querida Leila Diniz seria hoje um mito? Em seu tempo, era estigmatizada como imoral pelos moralistas, barrada na TV Globo e comparativamente pobre por filmar quase de graça para os diretores seus amigos. O famoso biquíni com que foi fotografada grávida era talvez o seu único.

Da mesma forma, quem se lembra de Montgomery Clift, sem o qual Marlon Brando, James Dean e Paul Newman talvez não tivessem existido? Clift foi Brando, Dean e Newman anos antes que eles surgissem. O próprio James Dean melhorou muito ao morrer tão jovem. Brando, ao contrário, sobreviveu demais a si mesmo e, entre "Sindicato de Ladrões" (1954) e "O Poderoso Chefão" (1972), foi sempre interessante, mas em filmes quase sempre desinteressantes.

Marilyn Monroe, grande em seu tempo, ficou maior ainda. Já Elizabeth Taylor, maior do que ela na mesma época, para onde foi? Quem se lembra de Liz em "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958), "De Repente, no Último Verão" (1959) e "Disque Butterfield 8" (1960), em seu apogeu de devoradora de maridos? Era estrela e atriz como nenhuma outra.

E as que foram mais atrizes do que estrelas, como Barbara Stanwyck, Patricia Neal e Deborah Kerr, e as que foram mais estrelas do que atrizes, como Ava Gardner, Cyd Charisse e Kim Novak? Estão todas, solidamente e por igual, reduzidas a DVDs perdidos e ocasionais streamings. E as europeias, que faziam os corações dispararem e valem uma coluna à parte?

E Tuesday Weld, Susan Kohner e Tina Louise? Mesmo na época, poucos as conheciam. Melhor assim, porque elas eram só para nós.

Folha de São Paulo, 16/11/2024