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Simples assim

 

Passando por aqui para lembrar algumas palavras, frases e expressões que nos infernizaram em 2023. Inclusive passando por aqui. Se você for proativo, vai achar que é o novo normal. Estarão na sua zona de conforto. Mas, se for reativo como eu, vai achar que é uma narrativa que precisa ser ressignificada.

É uma questão de empatia. É sobre entregar um discurso mais robusto e empoderado. Sei bem que não tenho lugar de fala para harmonizar certos pontos fora da curva e que preciso aplicar toda a minha resiliência para fazer um realinhamento. O nível de fitness está hoje num sarrafo muito alto.

Você dirá "olha o Ruy Castro sendo Ruy Castro". Mas o fato é que acho cringe essas falas fora da caixinha. Aliás, falar cringe já é meio cringe. Não é que eu não seja anímico. Ao contrário, boto todo o meu mental nelas. É que elas estão em outra prateleira, têm outras valências. Preciso usar a superação para me reinventar e entender que resenha não tem mais a ver com futebol, é qualquer papo, desde que latente. E que Crush não é mais aquele refrigerante de laranja, mas qualquer pessoa sobre quem você tem um crush.

Se o meu coach de wellness não me flexibilizar, vou acabar cancelado. Eu poderia trolar que sei das coisas e lacrar. Seria o maior hype. Iam achar que eu mitei e haveria gente me stalkeando. Mas, e se eu flopar? Sei lá o que é um gamer, um poser, um nervoser. Hater, sei —é um bolsominion. O jeito é ficar focado e dobrar a aposta. E acabo de descobrir que sextou não é mais sextou, mas sex to U, que é sexo para você. Xi, dei um spoiler.

Pensando bem, não é tão difícil. Frases feitas são aquelas que entram por um ouvido e saem pelo outro sem um estágio intermediário no cérebro. A boca fala por conta própria, dispensando-nos de pensar. E não tem problema nisso. Ou as ditas frases se incorporam à língua ou morrem e nascem outras. A língua é assim. Simples assim.

 

Folha de São Paulo, 27/12/2023