Todo mundo ouviu falar no comportamento dos torcedores ingleses, que já mereceu sanções por parte da Fifa e do próprio governo inglês. Alguns deles foram fichados e não podem nem aparecer nos estádios. Há gente que acha isso exagero, pois, afinal, os ingleses são sempre considerados exemplos de civilidade e calma ou, como se dizia antigamente, quase que somente em relação a eles, fleuma.
E é bem verdade que, no Brasil, as grandes torcidas têm aprontado bastante nos últimos tempos, a ponto de, como sabemos, haver quem não mais compareça pessoalmente aos jogos, com medo da violência.
Mas não se vê no Brasil o que se vê aqui. Talvez a televisão tenha mostrado aí alguns lances de grossura deles, mas, como se espalham 24 horas por dia nas cidades onde seu time joga, é impossível flagrar tudo. Tanto assim que acho que vocês não sabem de certas coisas que andaram fazendo e que, se fossem praticadas por brasileiros, morreríamos de vergonha diante do famoso Primeiro Mundo, ao qual desejamos tão ardentemente pertencer e a cuja opinião, mesmo mentirosa ou equivocada, damos tanta importância.
Vou logo saindo de perto quando eles, sempre em turmas mais ruidosas do que baiano no carnaval, aparecem, já enchendo a cara de manhãzinha, fantasiados e pintados com as cores do extinto império. Aí principia a curiosa maneira com a qual se vestem, porque é ao contrário do habitual. Eles, primeiro, põem roupas e, depois de umas cervejas, começam a tirá-las. Iniciam pela camisa e, logo em seguida o resto, com exceção da cueca, embora eu já tenha ouvido a conversa de que vários deles foram levados presos por estarem completamente nus em via pública, cambaleando para lá e para cá.
Em Frankfurt, Deus seja louvado, não vi nenhum inglês nu, mas vi diversos de cueca. Não posso dizer que aprovo o padrão geral das cuecas britânicas, pois a maior parte delas, pelo menos as que desafortunadamente surgiram à minha frente, é do tipo fio-dental e podem crer que vocês não apreciariam a visão de ingleses usando fio-dental, a não ser algum(a) tarado(a). Segundo me contaram, diversos se jogaram no Rio Meno com essa indumentária e, quando viram que a polícia vinha pegar os mergulhadores, caíram todos solidariamente na água, o que acabou dificultando ou impedindo a ação policial.
Haverá de ser esta, talvez, uma das razões por que torcidas de outros países fizeram figa para que os ex-colonizados de Trinidad e Tobago pelo menos arrancassem um empate. Como não foi possível, muita gente preferiu permanecer recolhida, com medo das comemorações inglesas. E suspeito que, se a Inglaterra perdesse, tampouco se iria às ruas, porque, afogando as mágoas de uma derrota, podiam agir de maneira ainda pior. Temos muito a aprender com o Primeiro Mundo.
O Globo (Rio de Janeiro) 16/06/2006