Foi uma sessão histórica da Academia Brasileira de Letras, considerada também como a Casa da Memória. O presidente Marcos Vilaça decidiu homenagear sete acadêmicos, com a aposição de quadros com os seus retratos, nas instalações do Petit Trianon. Famílias respectivas estiveram presentes.
Enquanto Tarcísio Padilha discorria com muita propriedade sobre cada um deles, rememorei o nosso convívio, dentro e fora da Academia. O primeiro homenageado foi Adonias Filho, amigo preferido de Rachel de Queiroz e seu colega no Conselho Federal de Cultura, que presidiu com grande prestígio e competência. Na oportunidade, em pleno regime militar, pôde testemunhar a favor de inúmeros intelectuais, impedindo que fossem vítimas de violências.
Depois, Aurélio Buarque de Hollanda, que se tornaria sinônimo de dicionário. Na Rádio MEC, em muitas noites, apresentávamos programas para o Projeto Minerva, no horário das 20 às 20h30, em geral respondendo a dúvidas de ouvintes distantes do Rio de Janeiro. Tenho comigo fitas de 55 dos seus programas, uma preciosidade histórica, pois foram gravadas com a voz do grande mestre.
Olhei em seguida para o retrato de Afrânio Coutinho, um dos maiores críticos literários de todos os tempos do nosso País. Bem mais moço do que o conheci, de terno branco, ainda assim lembrava o dedicado membro do Conselho Federal de Educação. Partilhamos durante anos de processos e discussões para melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Sua única frustração foi não ter obtido êxito na criação da Língua Brasileira. O projeto foi aprovado pelo CFE, mas engavetado no MEC.
Chegou a vez de Herberto Sales, escritor baiano de méritos reconhecidos internacionalmente. Conheci-o na presidência (por 10 anos) do então Instituto Nacional do Livro, realizando grande esforço para dotar bibliotecas públicas de obras selecionadas, sobretudo de literatura brasileira. Padilha lembrou sua última vinda à ABL, onde, com dificuldade, sentou-se ao seu lado. Não agüentou mais do que 10 minutos e pediu que o colega o levasse em casa. Foi sua última saída.
Chegamos a Luís Viana Filho, grande biógrafo e político. Foi governador do seu Estado, chefe da Casa Civil do Governo brasileiro. Doce no trato, não havia quem não lhe quisesse bem. Recebeu-me no Palácio de Ondina, onde conversamos longamente sobre a política brasileira e os destinos da nossa cultura.
Depois, Pedro Calmon, grande reitor da UFRJ. Homem de inteligência fulgurante, foi ministro da educação algumas vezes. Como presidente do Diretório Acadêmico La-Fayette Cortes, convidei-o para uma conferência sobre os quatro séculos de educação no Rio. Fez um brilhantíssimo improviso.
Para finalizar a série, Oscar Dias Correa. Foi o de mais longo convívio, pois começou nas sessões do Conselho Universitário da antiga Universidade do Distrito Federal (UDF), prosseguindo até que nos elegemos para a ABL. Aliás, dos seis anteriores recebi o voto. Ao sétimo, dei o meu voto, com orgulho e honra. Tarcísio Padilha encerrou seu discurso com uma frase verdadeira: “A saudade paira no ar”. Eles jamais serão esquecidos.
Jornal do Commercio (RJ) 18/1/2008