Para falar a verdade: estou ficando cheio das declarações dos principais candidatos à Presidência da República. São mais ou menos óbvias, e todas constituem um Frankenstein de promessas, pedaços otimistas mas na maior parte inviáveis, eleitoreiras e até mesmo contraditórias.
Não pretendo engrossar este saco de gatos. Na realidade, o que vai pesar na hora do voto é a afinidade pessoal com os candidatos, levando em conta principalmente a carreira (ou o passado) da cada um. A fidelidade partidária é utópica e não é levada a sério nem pelos candidatos nem pelos eleitores. Na prática, com pequenas exceções, não temos partidos em nível federal ou estadual.
O apoio e o voto em si são condicionados pelos sobas de cada partido ou facção. Durante a campanha, a chamada "formação de palanque" não implica em programas de governo, mas em formação de caixas dois, tempo de televisão e questões estaduais ou municipais. As alianças são pontuais e geralmente provisórias.
Bem, a democracia representativa tem esta pedra no sapato. Se por um lado garante a liberdade política e, sobretudo, a liberdade de opinião (com inúmeras exceções e interpretações), de outro é a fonte inesgotável da corrupção e justificação para que tudo continue no mesmo.
Alguns absurdos costumam acontecer criando até mesmo crises institucionais, como no caso da eleição de Jânio Quadros e João Goulart para presidente e vice-presidente, respectivamente, cujo resultado seria o golpe de 1964 e a ditadura.
Não tenho autoridade nem conhecimento bastantes para propor a remoção dessa pedra no sapato, ou, como queiram, desse saco de gatos. Mas acredito que os entendidos, os cientistas políticos que hoje ocupam a televisão e o estado maior do universo acadêmico, encontrem uma saída que acabe com esta aberração.