Mudar é próprio da existência. Tanto muda a natureza como mudamos nós, a sociedade e a cultura; e, se há o que muda independentemente da nossa vontade, há o que mudamos nós, por nossa própria determinação.
Naturalmente, dentre essas mudanças por nós mesmos realizadas, há as que decorrem de determinantes que mal controlamos e as que resultam de nossa opção consciente.
Fui levado a refletir sobre esses fenômenos ao me deparar com os problemas que enfrentamos, sobretudo na época moderna em face da necessidade de mudar a sociedade em que vivemos, que se impôs a partir da revolução industrial e do desenvolvimento do regime capitalista.
Em função disso, a partir da segunda metade do século 19, em praticamente todos os setores da sociedade, mudanças radicais se impuseram. Agravou-se uma visão crítica do modo de produção capitalista que iria culminar, em começos do século 20, com a revolução comunista de 1917.
É também no final do século 19 que, no terreno das artes, surge um movimento renovador que culminará com a eclosão cubista no início do século 20. Tais eclosões revolucionárias, tanto do campo de produção industrial quanto da criação artística, não são meras coincidências, mas, sim, resultantes das complexas relações que condicionam essas distintas manifestações da criatividade humana.
Um século depois de deflagradas, essas mudanças radicais, tanto no campo político-econômico como no plano estético, ambas, após as mudanças que provocaram, esgotaram-se.
No campo artístico, após uma série de movimentos realmente inovadores, chegou-se à desintegração das linguagens e, finalmente, a uma espécie de vale-tudo. Isso porque, quando se afirma que será arte "tudo o que se disser que é arte", é decretado o fim da arte.
No campo político não chegamos a esse niilismo, nem poderíamos chegar, pelo fato de que a política não lida apenas com metáforas, mas com a realidade concreta da vida.
E aqui chegamos ao ponto que me levou a estas considerações: se é verdade que a mudança é um fator decisivo da existência e, portanto, também da realidade social, inovar, neste campo, não é o mesmo que inovar no campo das artes, pelo fato de que este é um terreno particularmente complexo, pois envolve desde o pão de cada dia até o custo das aposentadorias e o índice de desemprego.
A Revolução Soviética de 1917 deu início a mudanças radicais na sociedade russa, mas também no processo político mundial, fomentando, sobretudo na intelectualidade e na juventude, a luta por uma sociedade anticapitalista, justa e revolucionária.
Essa utopia não se realiza plenamente em razão mesma da complexidade dos problemas nela implicados. Marx subestimou a importância decisiva da iniciativa privada no processo econômico e, com isso, perdeu a disputa com o regime capitalista.
Em consequência disso, aquela ideologia perdeu força, mas a luta pelas mudanças sociais ainda se mantém, seja na versão do populismo latino-americano, seja no projeto de alguns partidos que pregam um socialismo moderado em diversos países europeus.
Há, ainda, também na Europa, países que praticam um capitalismo sensato, em que a diferença de renda é compensada com a prestação, pelo Estado, de serviços eficientes no campo da saúde e da educação, sobretudo.
Em países como o nosso, esses serviços são muito mais precários não só porque os recursos são insuficientes, mas porque o número de pessoas carentes é muito maior.
Na América Latina surgiram alguns governos populistas que tentaram explorar politicamente essa desigualdade, implantando programas que excluíam a possibilidade real de colocá-los em prática. A consequência disso foi o agravamento da situação econômica geral e a estagnação do crescimento, que resultou no fracasso desse populismo nos países que tentaram implantá-lo.
Então, volto à tese que já expus aqui: uma coisa é romper com a lógica do discurso poético; outra coisa, muito diversa, é romper com a lógica do processo social. Dá em Venezuela, por exemplo.