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Rolezinho do bem

 

Enquanto a Unesco acusa o Brasil de morosidade nas providências para chegar a uma educação de qualidade, alguns dos nossos jovens se ocupam com movimentos de alcance duvidoso. Perturbar os shoppings com os tais rolezinhos não nos parece o melhor caminho para exercer a cidadania, tanto mais que se sabe ser bastante precária a presença deles nas escolas de ensino médio. Exibimos a média de 50% de frequência, na faixa etária respectiva, uma prova de que será difícil alcançar os preconizados dez milhões de universitários nos próximos anos. Nem quantidade nem qualidade na meta almejada pelo fantasioso Plano Nacional de Educação.

Há progressos em doses homeopáticas, como na questão das creches e da desejada universalização do ensino fundamental. Não é possível disfarçar o descaso com a questão do magistério, essencial em todos os sentidos. O salário básico de R$ 1.700 é dos mais baixos do mundo desenvolvido e, mesmo assim, nem sempre é pago por secretarias estaduais e municipais de educação, que alegam escassez de recursos. Até quando devemos esperar pelos milagres do pré-sal? Conviver com 13 milhões de adultos analfabetos é um brutal desafio que certamente perturbará as noites de sono do novo ministro da Educação, o eficiente especialista José Henrique Paim. Ele precisará receber  apoio para cumprir a sua missão.

Não duvida mos da nossa capacidade de reação. Querem um do exemplo? A realização do campus party, no Anhembi, em São Paulo, reunindo oito mil internautas. Lá estivemos e se pode proclamar que era um espetáculo comovente, sentir aquela meninada debruçada em seus computadores, oferecendo provas inequívocas de sua impressionante criatividade. Em 15 painéis simultâneos, viu-se o impacto dos meios digitais nos novos formatos de conteúdos audiovisuais, com a abertura de grandes oportunidades para os produtores brasileiros, as comunidades digitais empenhadas na formulação de games de todos os gabaritos, além da apresentação de uma inovação tipicamente brasileira, que é a Nuvem de Livros.

Trata-se da mais completa biblioteca on-line do país, que oferece aos seus 1,5 milhão de usuários livros de qualidade (escolhidos pelo curador Antonio Torres) ao preço simbólico de 2,99 reais por semana. Uma grande ideia que poderá cobrir o déficit proclamado de 15 milhões de alunos sem biblioteca, no nosso sistema de ensino. A democratização do acesso ao livro se faz com vistas especialmente aos mais de 30 milhões de brasileiros que ultimamente chegaram à classe média, reivindicando o legítimo direito aos bens culturais de que estavam dissociados. Esse foi um rolezinho do bem, que não se pode deixar de elogiar.

O Globo, 4/2/2014