Hoje vou entrar no assunto do Delfim, o mestre dos mestres em economia. Acabo de ler nos jornais sobre um assunto complicado, que não consegui entender completamente: as economíadas, mistura de economia com olimpíada.
Os professores Andrew Bernard, da Tuck School, e Meghan Busse, da Universidade da Califórnia, construíram um modelo em que é possível calcular a previsão das medalhas olímpicas com base em dados econômicos. Não sei se é assim, mas uma mistura de economia com esportes olímpicos leva a indicadores que podem estabelecer uma relação causal entre medalhas e índices econômicos. Poderíamos fazer a seguinte ilação: juros médios levariam a de bronze, exportação, a de prata, e desenvolvimento alto, a de ouro. Desemprego, juros altos, crédito curto e bolso vazio são fiascos, não classificam para as finais, desqualificam a equipe. Não sei também se há semelhança entre modalidades.
Assim é nossa luta com o FMI, bola para cá, bola para lá. Rato, diretor do Fundo, avança para cortar, e Palocci recebe o saque. O FMI assim é voleibol de areia. Outra coisa é a teoria de concentração de renda e de medalhas. Os professores afirmam que, em 1904, os Estados Unidos cresciam e tinham 74% das medalhas. Agora, em 2004, com Bush e a alta do petróleo, só chegaram a 35%.
De qualquer maneira, essa teoria não bate com o que acontece no Brasil. Os juros baixaram, a inflação idem, o desemprego também, o crescimento voltou com a força de 5%, coisa que não acontecia havia uma década, quando patinávamos nos 2%.
E o nosso desempenho, embora não seja desprezível, não mostra o ouro do nosso resultado econômico. Chegou o senhor Rato para ver o nosso queijo e derramou-se em elogios. Ele chegou de luvas por causa de uma alergia, e o Palocci concluiu que não era do Brasil e acenou em não querer mais acordo com o Fundo. E receitou antialérgico genérico, desses que dão mais coceira.
O comentário que restou é o de que o Fundo não é mais o mesmo: usa luvas, Rato almoça com o presidente e rasga-se em louvores ao Brasil, acenando em rever as metas para aumentar os investimentos e diminuir o superávit fiscal.
Mas, para voltar ao nosso tema inicial das olimpíadas e da economia, vamos verificar que o modelo que montaram não levou em consideração a teoria da relatividade, porque, se a nossa Daiane não tivesse tido a falta de sorte que teve, colocando seu pezinho mágico fora daquela linha, poderíamos estar com juros altos e risco 3.000, mas o Brasil estourava e a teoria viria abaixo.
E o que não dizer do nosso Ronaldinho, sonâmbulo em Paris, em 1998, e depois com aquela rótula quebrada e morrendo de dor?
Verdade seja dita que, com economia ou sem economia, deveríamos investir mais em nossos atletas, estimular academias, recrutar vocações em todos os segmentos sociais de modo a sermos uma potência olímpica. Não só o país do futebol, mas da ginástica olímpica, da natação, do basquete e das nossas meninas, que brilharam tanto no futebol, no vôlei, no judô, no atletismo e em todas as modalidades.
E, cá para nós, esses professores americanos não entendem de futebol nem de olimpíadas, e essas tais de economíadas só o Garrincha entenderia, perguntando se combinaram com o adversário.
Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 10/09/2004