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A questão Marta

 

Tocou no assunto que vou deixar escrito neste artigo o meu colega José Nêumane. Vou ser, no entanto, diferente dele, nos comentários sobre a derrota de Marta Suplicy. Se Marta fosse socióloga, se tivesse conhecimento sobre a formação da sociedade, saberia o motivo porque perdeu a eleição, embora tenha tido um elevado número de votos. Não há dúvida que o eleitorado, principalmente do PT, a sufragou, sem dar o suficiente volume para a sua vitória.


A sociedade paulistana, constituída de uma forte classe média em suas gradações, mas colocada na categoria sociológica da média superior, média-média e inferior, tem raízes profundas na ética que sempre constituiu o forte da ação dos paulistas de todos os tempos. A prova já está feita, embora as mobilidades sociais dos últimos anos, sobretudo do êxodo rural, não alteram a composição a que me refiro. Que é profunda e que não vai mudar tão cedo, segundo a prova atual, que está feita.


Não retrata um liberalismo qualquer, mas, efetivamente, a ética ou moral que está na base das ações e do comportamento das classes médias paulistanas e, por extensão, paulistas, essas classes médias que tanto preocuparam o papa Leão XIII. Foi essa ética que Marta enfrentou, com total desconhecimento de seu conteúdo. Pagou, por isso, com a sua derrota. O abandono do lar, cujo chefe era e é um ser humano querido por sua formação espiritual e religiosa.


Ademais do abandono do lar, o seu casamento espalhafatoso com um forasteiro - não o julgo, por não o conhecer - tão espalhafatoso que foi capa da revista Caras e matéria de páginas da mesma publicação, com fotografias de sua alegria pelo consórcio. Isso tudo cala nos paulistas que desejam a família bem constituída, embora reconhecendo a sua crise contemporânea. A reação veio, com outros fatores, no dia da eleição, ganha por um legítimo e correto cumpridor dos deveres das classes médias. É isso, em síntese.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 11/11/2004

Diário do Comércio (São Paulo), 11/11/2004