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A pior solução

 

A moda, agora, é realizar seminários sobre Gestão da Qualidade. Nada contra essa epidemia, mas há questões básicas que precisam ser antes atacadas. Como é o caso do nefando corporativismo, que atrasa a educação brasileira.


Veja-se o caso da autonomia universitária. Ela é amplamente defensável, mas quando alguns passos adiante são dados, surge a malversação praticada por fundações vinculadas a escolas públicas superiores. Como é que os então dirigentes da Fenatec, da Universidade de Brasília, não desconfiaram de que seria condenável a prática de utilizar os recursos oriundos do Poder Público para a compra de supérfluos? Errou o reitor Mulholland, que todos dizem ser um homem de bem? Não há dúvida, porque ele é um administrador. Argumentar, como faz o meu amigo Cristovam Buarque, que ele não praticou nenhuma ilegalidade, é resolver a questão pela rama. E o lado moral, onde fica?


Isso ocorre em outras fundações vinculadas a universidades federais. Ganha corpo, agora, a defesa dos "inocentes", dos que não sabiam que isso era um crime ou uma flagrante irregularidade. Exercício típico de corporativismo, o que não ajuda em nada a candente defesa que todos fazemos da autonomia universitária, um sólido dispositivo constitucional.


Como a febre amarela, a doença é contagiosa. Ao mesmo tempo que se discute a vida universitária, o governo se esforça para explicar o inexplicável uso indiscriminado de cartões corporativos. Não dá para entender que as autoridades distribuíssem cartões às centenas. A desculpa não tem sentido: seria para evitar a demora burocrática no pagamento de pequenas despesas. Por que não se aperfeiçoa o sistema?


Corporativismo, cartões corporativos, uma sucessão de fatos que demonstra a falta de educação cívica, os princípios morais sendo interpretados de forma delituosa. Aí vem o que nos parece o comentário cabível: é na escola que, ao lado da família, esses valores devem ser fincados no espírito dos jovens. Como é sempre do alto que vem o exemplo (dos pais para os filhos, na ordem natural das coisas, ou dos professores para os alunos), não há como concordar com esses rumos. As escolas não podem somente ensinar Português e Matemática. A Ética clama por uma presença maior em nossas escolas.


Diário do Comércio (SP) 25/3/2008