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A pequena notável

 

Uma das lembranças mais fortes que guardo refere-se à morte de Carmen Miranda. Foi um enterro como poucos, com o comparecimento em massa do povo entristecido. Ela repousa no Cemitério São João Batista, em Botafogo, perto de Francisco Alves, o Rei da Voz, outro que também é alvo de visitas estrondosas sobretudo no Dia de Finados. O que terá levado Carmen Miranda a tamanho sucesso? O fato de ter nascido em Portugal? Os inúmeros shows no Brasil? Um êxito ainda maior nos Estados Unidos? Deve ter sido a soma de tudo isso. Foi cantora, atriz e dançarina. Sua maior atração foi a música, estreando no disco em 1930, com Não vá simbora e Se o samba é moda. No carnaval desse mesmo ano, fez sucesso com a marcha Iaiá Ioiô, de Josué de Barros. Para ficar definitivamente famosa com a marchinha Taí, de Joubert de Carvalho.


Título marcante


Estreou no cinema em 1933, logo se tornou "A pequena notável", título que levou até a morte. Foi-lhe atribuído na Rádio Mayrink Veiga pelo famoso César Ladeira. Eleita a maior cantora do Brasil, fez dupla com Mário Reis, Chico Alves, Sílvio Caldas e os irmãos Barbosa, Castro e Luiz. Com o Bando da Lua surgiu a chance de ir para os Estados Unidos, onde a sua vida se transformou até falecer na residência de Beverly Hills, em 5 de agosto de 1955, com apenas 46 anos de idade. Sua última vontade era ser enterrada no Rio, ao som de Adeus batucada, de Sinval Silva, diante de cerca de 500 mil pessoas. O seu corpo foi velado na Câmara Municipal, diante de fãs, que não esqueciam a explosão de Brazilian Bombshell, com os vigorosos movimentos de cores, ritmos e o corpo predestinado. Agora, decidimos homenagear a memória de Carmen Miranda. Um supermusical, dirigido por Maurício Shermann, com Marília Pêra no papel principal e a participação especial de Carlinhos de Jesus, além de 21 artistas. Será um mês de temporada no Teatro João Caetano (1.300 lugares), ocupando o mês de outubro, com o apio da Secretaria de Estado de Cultura e da Vivo, naturalmente sob os auspícios do Governo do Estado. Nossas homenagens não se restringem ao show musical. Referem-se também às obras de restauração do Museu Carmen Miranda, situado no Aterro do Flamengo, onde existem milhares de peças da grande artista, que até hoje tem fiéis seguidores, num fenômenos raro de sucesso permanente. Uma particularidade de Carmen: quando esteve em Hollywood, na década de 40, alcançou o maior salário pago a uma artista estrangeira. Nem essa riqueza fez com que ela esquecesse o seu país de adoção. Aqui sempre manteve contato com familiares e amigos. Lá nos Estados Unidos, a residência com David Sebastian, seu marido, era uma verdadeira embaixada do Brasil. Com o prato típico: camarão ensopadinho com chuchu. E manteve o repertório das nossas músicas, em seus shows, numa impressionante fidelidade cultural. Esta é a Carmen Miranda, homenageada por todos os seus méritos, com a alegria contagiante que repetimos no legado lembrado em 2005.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 11/09/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 11/09/2005