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Os últimos diálogos

 

Quem viaja de avião por todo o mundo conhece alguns pontos fracos da aviação comercial e pode apontá-los para servir de exemplo aos navegadores aéreos.


No caso da tragédia do dia 17 de julho, temos vários exemplos nos últimos instantes dentro da cabine. O Globo de ontem traz o diálogo dramático dos últimos minutos de vida dos pilotos e passageiros. Eles tentavam frear o avião: "Não dá, não dá. Ai meu Deus".


Essa foi uma das expressões do piloto em pânico, de quem - e somente dele - dependiam as vidas dos passageiros, que esperavam chegar aos seus destinos. Outras gravações revelam pilotos em dificuldade para operar o Airbus. Esta, no entanto, através de sua diretoria, já informou ao mundo que o avião de sua fabricação não tem segredos.


A aviação comercial tem esse ponto fraco - uma falha numa viagem de automóvel pode ser reparada, em geral sem dificuldade, ao passo que no avião exigirá treinamento psicológico dos comandantes e comissários de bordo, pois surge logo o medo, que é o mau companheiro da viagem aérea. Deduzimos que todos os aspectos do medo se manifestaram dentro do jato da TAM, o que agravou consideravelmente a calma que o pessoal de bordo deve ter nos momentos mais difíceis para conter a erupção dos passageiros amedrontados com a morte - perto, muito perto.


Tenho a maior simpatia pela TAM e pela história do saudoso presidente-comandante Rolim, mas não devo aqui fazer acusações, que não tenho nenhum elemento para tal, mas sim me basear nas gravações das caixas-pretas - tão elucidativas - com os momentos trágicos. A aviação já tem algumas décadas de existência - desde os tempos da hélice, até os tempos dos jatos -, mas os problemas humanos com relação aos aviões não foram resolvidos ainda. A maioria dos passageiros faz como o presidente Lula, que ao entrar no avião entrega a alma a Deus.


Enfim, o avião ainda é uma surpresa. Às vezes intolerável, na maioria das vezes benéfica.


Diário do Comércio (SP) 3/8/2007