No Império, os partidos Conservador e Liberal se revezaram no poder; o Conservador deu ao presidente do Conselho dez vezes e o Liberal onze vezes o Ministério de Conciliação presidido pelo marquês do Paraná. Quem conhece a História do Império sabe que os partidos desempenharam a contento as funções que lhes foram cometidas.
Com a queda do Império os partidos, evidentemente, desapareceram, ficando no poder o Partido Republicano, com denominações complementares estaduais. Em São Paulo assumiu o poder o Partido Republicano Paulista, o famoso PRP, do qual se dizia que fora dele não havia salvação.
O Partido Republicano Paulista dividiu com o mineiro, qual dupla face, o governo da República até a Revolução de 30, da qual saiu vitorioso o Rio Grande do Sul, com a liderança de Getúlio Vargas.
O PRP permaneceu no poder durante toda a República Velha, por ter-se constituído numa oligarquia que dominava por meio da fraude as eleições. Deve-se reconhecer que o partido praticava a política de compensação. Obedecia à divisa: "Para os amigos tudo, para os indiferentes a Justiça e para os inimigos nada".
Como se vê, uma política realista, sobretudo em um país como o Brasil, que recebera distraidamente, com enfado, o golpe de 15 de novembro.
Depois de 30 tivemos um longo período ditatorial; com o golpe os partidos foram extintos. A reação de rua dos estudantes e dos políticos do passado, reanimados pela probabilidade da deposição do presidente-ditador, acabou triunfante, e os partidos voltaram dominando a cena política: o PSD, preferido pelos mineiros, a UDN, de oposição, e o PTB, atrelado a política social de Vargas que dotou os trabalhadores da CLT.
Treze legendas foram registradas, mas acabaram ficando onze até outubro de 1967, quando o presidente Castelo Branco, mal avisado, os extinguiu, embora ao menos os principais já estivessem em adiantada institucionalização. Vieram em seguida as legendas Arena, situacionista, e o MDB.
Verificou-se a sina dos partidos republicanos e a fragilidade das estruturas. A Arena desapareceu, o MDB acrescentou à sua sigla o P de partido, obedecendo lei recente, e mais tarde vieram outros, como o Partido dos Trabalhadores, fundado por Luiz Inácio Lula da Silva, que veio a ser candidato notório à presidência da República. Mas esse e os demais partidos, inclusive o PMDB, não se institucionalizaram, pois militam em suas fileiras lideranças de facções.
Essa a suma da partidocracia no Brasil, nesta altura do segundo milênio. Daí a tendência discricionária dos presidentes da República.
Creio ter demonstrado que não temos partidos consolidados, reconheçamos, não na totalidade: o PMDB corre o risco de cindir-se uma liderança forte - e não assumir a sua direção -, e impor disciplina, como teve em um passado longo o PRP no Brasil.
Diário do Comércio (São Paulo) 18/08/2005