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Opinião: O papa em nossa casa

 

É muito difícil ser papa depois de João Paulo II. Este teve uma grande cumplicidade com a história. Antes de tudo, foi o primeiro papa a viver a sociedade de informação, capaz de ser visto e acompanhado por todos e em todo lugar. Segundo, teve de atravessar o tempo da Guerra Fria que levava o mundo à beira da catástrofe nuclear. Terceiro, lhe coube executar as reformas do Concílio Vaticano II, que provocou uma tempestade na Igreja, e resolver o conflito ideológico com a Teologia da Libertação.


O atual papa vive uma só e irresoluta dificuldade: ser sucessor de João Paulo II. Quando escolheu o título de Bento XVI, quase que ele quis dizer isso. Bento XV foi escolhido cardeal três meses antes do seu antecessor morrer, num sinal claro de que devia sucedê-lo. João Paulo II, também, fez sua escolha. Ratzinger foi o intérprete de suas idéias, firme na pregação de uma igreja voltada para seus valores espirituais, o guardião da tradição, do código moral de Moisés, da pregação do Cristo e do radicalismo de São Paulo.


O papa Bento trabalha numa estrada estreita. A Igreja é, mesmo às vezes contra nossa vontade, oferta de um caminho para encontrar-se aquilo que o nosso visitante disse, quando lhe perguntaram sobre as seitas e seu crescimento: "Uma sede por Deus, pela proximidade de Deus". Ele reconhece que a Igreja Católica não é mais a única fonte para matar a vontade de beber.


Mas a Igreja por definição tem de ser conservadora, no sentido de que vive de um código moral, canônico, que ela tem de defender, embora com os tempos a sociedade não o aceite integralmente, considerando muitos de seus valores anacrônicos e irracionais. É seu dever. A Igreja política não deu certo. A Igreja revolucionária em armas não é a Igreja de idéias de Bento e João Paulo.


A "sede de Deus" vem da vontade do homem em ser imortal, vontade jamais alcançada e por isso mesmo chamada por Unamuno de "sentimento trágico". A proposta do Cristo foi a imortalidade da alma, nossa fé.


O papa é um símbolo para todos nós, e o Brasil, no calor e no carinho com que o recebe, mostra o prestígio da nossa Igreja, de seu episcopado e de todos os que exercem a missionária tarefa de evangelizar.


Não devemos recebê-lo com cobranças que ele não pode atender. O papa lida com a eternidade. A Igreja já avançou quando escondeu o diabo e flexibilizou (palavra da moda) o pecado.


Assim, louvemos Frei Galvão, santo brasileiro, esperemos Santa Irmã Dulce e que não demore mais: São João Paulo II.


Jornal do Brasil (RJ) 11/5/2007