Essa Operação Narciso foi executada aparentemente sem preparação. Por que o grande número de policiais para invadir uma casa comercial de luxo, cujos preços interessam somente aos seus clientes? Para evitar, supostamente, a evasão de divisas? Para mostrar que não há privilégios, quando sabemos que os há, de fortuna e posição social ou política? Nenhuma dessas razões fica de pé. Alguém, um curioso qualquer, um estranho ao meio social, que deseja a sua extinção, uma utopia, como sabemos? Qual o resultado prático e próximo da bulhenta Operação? O resultado da expedição policial foi insignificante e, certamente, não abalou o prestigio da casa de luxo da burguesia paulista, dos Jardins e do Morumbi.Não conheço a Sra. Eliana Tranchesi. Minha falecida mulher não era sua cliente, por ser cliente dos costureiros franceses. Mas, pelo nome, integrou a família do professor Tranchesi, já falecido, ao qual Paulo Maluf deu o nome de um viaduto que abreviou a ligação entre duas partes da Bela Vista.
Segundo se sabe nos círculos médicos, o professor Tranchesi foi um expoente de sua classe, honrando, portanto, a medicina paulista. Seu filho é conhecido como ilustre médico, que saiu ao pai, como grande profissional. Lembro-me que tive boa impressão e da senhora, num jantar em casa do saudoso marquês de Bonneval. Não direi, portanto, que o conheço, mas o caríssimo e já morto marquês da velhíssima aristocracia francesa, fez-me as melhores referencias do médico que o assistia. E era ele..
A Sra. Eliana Tranchesi foi levada para a prisão, mas liberada logo em seguida. Não podia ficar detida sem culpa formada e sem ter de se submeter a averiguações na delegacia para a qual foi conduzida.
Afirmou a proprietária da luxuosa casa comercial que colabora contra a evasão de divisas. Não será muito e o Brasil tem meios para evitar essa evasão, deixando a empresária com seus ricos clientes, abastecidos com fundos bancários suficientes para pagar o luxo Daslu. O que nos interessa, portanto, é a honra da comerciante que não deve ser maculada sem provas evidentes e incontestáveis de sua suposta culpabilidade. Não bastam apenas os indícios. Quanto a seus preços, que são altos, não há dúvida, são de interesse de seus clientes. Se são ricos, podem e nada arguem contra uma e outra. Que fique em paz o estabelecimento com a sua proprietária, até serem obtidas, por vias regulares, as provas de que precisa a Receita. É a minha opinião sobre o espalhafatoso trabalho da Operação Narciso.
Diário do Comércio (São Paulo) 15/07/2005