Chamou a atenção o quase esquecimento da América Latina nos debates televisivos dos candidatos à Presidência dos Estados Unidos. O continente só foi uma vez mencionado por Romney e, de corrida, numa nomenclatura geográfica de Obama. A ausência mais evidente definiu-se nas estratégias de silêncio de democratas e republicanos quanto ao México, evitando entrar na regulação fronteiriça do direito de "ir e vir", repudiado pela massa do eleitorado republicano, responsável pelas vitórias de Romney na região.
De outra parte, ainda, o agudíssimo problema do tráfico de drogas colocaria em questão, frente aos países andinos, as políticas de intervencionismo ostensivo, ainda do governo Bush, e descartadas por Obama. Uma das baixas, por outro lado, desse primeiro mandato, foi a de manter o impasse de Guantánamo, desagradando a gregos e troianos, à esquerda do país, e aos reacionários cubanos da Flórida. O grande desfoque, agora, de Washington é o do entendimento do que seja o Brasil de Lula e Dilma, no quadro emergente dos Brics, superando a velha visão da América La-tina, e dos contrapontos clássicos de "centro e periferia", ainda vigentes na virada do século. Este protagonismo do país se descontinentaliza, e encontra uma identidade, a longo prazo, com as outras nações, de gigantesco mercado interno, corno a China e a Índia, de par com o aprofundamento da nossa relação com a África.
Registra-se, sobretudo, a nova desenvoltura com que Dilma manifesta-se sobre o Oriente Médio, defende a ida à ONU, da questão nuclear iraniana, e o trato da crise síria, em razão de um trunfo trazido, agora, ao xadrez desta problemática. Ou seja, a de que temos, no Brasil, as maiores levas, emigradas, de sírios e libaneses, a se transformarem numa caixa de ressonância de nosso pluralismo internacional, sobretudo, frente aos Estados Unidos, impensável no século da Doutrina Monroe, ou, a seguir, na era kennediana, da "Aliança para o Progresso".
Não há que esperar grandes mudanças de Obama, no reconhecimento de toda a dimensão do Brasil dos Brics, bem como da nossa contrapartida ao desempenho dos países bolivarianos e seu poder de barganha petrolífero, diante das novas reservas do pré-sal, a longo prazo. No "vis-à-vis" com o mundo árabe, aí estão os sinais de uma nova primavera democrática. Não se depara, por outro lado, tema de maior repto na agenda de Obama, das relações com a China, e a mediação dos Brics, a se querer uma globalização não-hegemônica, para uma visão efetiva da convivência mundial, no repúdio à "declaração de guerra" no intercâmbio econômico com Pequim, prometido por Romney. A existir, já, uma agenda de Obama, à altura do repto chinês, o protagonismo múltiplo dos Brics é o que reclama uma América livre, por enquanto, do fundamentalismo republicano.