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O Teatro de idéias

 

A escritora Zora Seljan escreveu, em 1998, um belo livro sobre a vida e a obra de Joracy Camargo, na coleção Afrânio Peixoto, da Academia Brasileira de Letras. Com uma incrível vocação para o sucesso, Joracy Camargo foi diretor de quatro teatros, entre os quais o João Caetano, na Praça Tiradentes, sem deixar de produzir peças como “O bobo do rei” (1931) e “Maria Cachucha” (1937), além do clássico “Deus lhe pague” (1932), todas com um número impressionante de representações.


Foi autor de 53 obras, entre peças, libretos, operetas, argumentos cinematográficos e as bem-sucedidas novelas radiofônicas que consagraram, durante muitos anos, a programação da Rádio Nacional. Jornalista atuante, passou por “A Pátria” e “A Manhã”, tendo sido um dos fundadores deste último, ao lado de Mário Rodrigues.


Para Josué Montello, ele foi um autor representativo da sua geração, alcançando grande aplauso popular. Correu o Brasil como pesquisador do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, do Ministério da Educação, envolvido nos trabalhos da Campanha Nacional de Educação de Adultos. Foi também professor de Técnica Teatral e de História do Teatro, além da cadeira de Estética.


Na Literatura Infantil prestou também a sua colaboração, escrevendo os diálogos educativos intitulados “Papai” (uma edição da biblioteca infantil de “O Tico-Tico”, e mais “Teatro da Criança” e “A escolinha”).

O seu repertório iluminou as décadas de 30 e 40, em nosso País. A ponto de Monteiro Lobato ter escrito que Joracy foi o filósofo do teatro brasileiro. Em artigo de 1941, Afrânio Coutinho elogiou-lhe a seriedade, “aprofundando a sua obra no estudo e na meditação, indo em sentido contrário à mania da improvisação e da superficialidade.” A sua ação dramática sempre girou em torno da crítica à sociedade burguesa. “De forma simples, um teatro de idéias.”


Na sessão da saudade, após a sua morte, dele disse o acadêmico e historiador Pedro Calmon: “Conheci Joracy Camargo no esplendor da sua carreira, quando promovia a pedagogia do bom teatro no Brasil. Excursionava pelo país inteiro, queria levar a sua palavra de ensinamento e entusiasmo pela arte que abraçara. Era na realidade um missionário, no sentido estrito do termo. Esse homem ilustre, esse grande autor, expoente da classe, foi eleito com a recomendação, o pedido, a insistência da classe teatral, orgulhosa dele. Ele aqui entrou como embaixador legítimo da sua profissão. Aqui ganhou a unanimidade da nossa admiração, pelas qualidades pessoais, com a sua suave ironia.”


Como homenagem à sua memória, recordo parte do seu discurso de entrada na ABL, muito aplaudido, quando se referiu às características do seu teatro: “A obra de arte de proporções geniais é sempre evolucionária. Não foi esse o meu teatro, pela ausência completa de genialidade, mas foi o teatro político, pedagógico, feito com a atitude de generosidade consciente, corretivo, que atingiu em cheio grandes massas de espectadores, daqui e de tantas outras latitudes.”


21/01/2009