Durante longo período de tempo nas colunas dos jornais que dirigíamos, combatemos a Petrobrás. Para nós, o Brasil não dispunha de reservas do bruto, e não poderia, nunca, ser exportador de óleo, ao contrário do que afirmavam seus técnicos, diretores e outros entusiastas da empresa.
No tempo do "O petróleo é nosso" formamos na camada de adversários da empresa, por vermos nela um gastador de dinheiros públicos, sem perspectiva de dotar o país da petróleo e seus derivados. Reconhecemos, mais tarde, que a Petrobrás se especializara nas águas profundas e que a produção estava subindo, para chegar à liberação do Brasil dos exportadores árabes, da Venezuela e do México.
O dia que esperávamos chegou. A Petrobrás anunciou em dias da semana passada que chegou a equiparar a produção e o consumo, ou seja, 1,8 milhões de barris dia. Não deixemos passar a notícia sem louvar as sucessivas diretorias da Petrobrás e seus técnicos, que bem souberam conduzir a empresa a essa posição. Embora, segundo os técnicos, a Petrobrás ainda deve esforçar-se para produzir mais, de sorte que a produção seja auto-sustentável, havendo, portanto, sobra de produto para exportação. Esse dia chegará, sem dúvida, segundo os técnicos da empresa.
Os árabes não estão ameaçados. Ameaçado está o petróleo, como óleo lubrificante, combustível e matéria-prima de dezenas de produtos industriais, que são consumidos por milhões de pessoas em todo o mundo. Mas, o que nos interessa é dispormos do produto, a fim de enfrentarmos as crises que se anunciam para breve, inclusive a mais importante, o aumento do barril para 100 dólares, segundo a revista The Economist .
Quando chegar esse dia, se a OPEP firmar posição para aumentar o barril a preços que consideram justo árabes e outros produtores, se tivermos de enfrentar o desafio do bruto contra as necessidades numerosas do petróleo, haverá, evidentemente, uma crise de proporções incalculáveis, ao menos no momento, até o reajustamento da economia, pois os preços acabam por corresponder à oferta e à demanda.
Mas, o que nos agrada sobremaneira é a notícia que deu origem a estas considerações e a nossa opinião favorável à empresa brasileira, que chegou a essa posição que, sem dúvida, está sendo comentada nas reuniões dos produtores do bruto nas várias partes do mundo em que se encontram para tratar de seus negócios petrolíferos.
Diário do Comércio (São Paulo) 24/05/2005