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O primeiro diploma

 

Estamos voltando aos bons tempos em que era possível chorar de verdadeira emoção, numa festa de formatura. Aconteceu em São Paulo, com a presença do ministro Cristovam Buarque (representando o presidente Lula), quando a primeira turma de alfabetizados jovens e adultos formou-se, no Centro Universitário FMU, depois de seis meses de duro trabalho de ensino e aprendizagem.


De origem humilde, principalmente catadores de papel, aqueles quase 200 brasileiros foram assistidos por monitores e professores da Faculdade de Educação. Na formatura, alguns leram seus textos já bem estruturados, agradecendo pela oportunidade, ultrapassando a barreira "do desprezo e da fome", como afirmou com propriedade o catador de papel Ricardo Marcolini, de 29 anos. Outro formando, natural do Maranhão, e que viera para São Paulo há 26 anos, em busca de oportunidades de trabalho, voltou à escola, para finalmente aprender a ler, escrever, contar e raciocinar, até receber o seu glorioso atestado de alfabetização. Terminou, eufórico, o seu pequeno discurso, com um tom vitorioso: "Agora, ninguém mais me segura!"


O presidente Lula enviou emocionante mensagem ao prof. Edevaldo Alves da Silva, em que pôde registrar o quanto apreciou um dos primeiros resultados da campanha Brasil Alfabetizado: "Peço a Deus que vocês, que tiveram a oportunidade, o privilégio de ter uma família para ajudá-los a chegar aonde chegaram, que não deixem nunca, antes, durante e depois de formados, de estender a mão para alguém que não teve a mesma chance. Se fizerem isso, valeu a pena estarem aqui, hoje." Houve muitos aplausos.


O professor Cristovam Buarque viveu momentos de rara alegria. Disse que os concluintes - um símbolo - deveriam receber também o diploma de heróis. E que havia conhecido experiências notáveis, como a daquela senhora que lhe disse: "Agora, vou poder escrever o nome do meu filho." Ressaltou a forma feliz como se fez a junção da universidade com a alfabetização, discurso que não se cansa de pregar, e que naquela oportunidade havia funcionado às maravilhas. Um adequado e inteligente projeto de extensão universitária.


Mesmo reconhecendo que temos menos de 20 milhões de adultos analfabetos ("os números estavam um pouco inchados"), o ministro renovou a sua expectativa de que o desafio lançado à sociedade brasileira seria vencido, no prazo do atual Governo. Caso contrário, arrancando aplausos do auditório Ulisses Guimarães, declarou que "a bandeira do Brasil deveria retirar a inscrição Ordem e Progresso. Ou se ensina todo mundo a ler, em nosso País, ou não restará outra alternativa".


Deve-se ressaltar, na sessão cívica, o alto grau de participação de professores e alunos de Pedagogia. Alimentados pelo idealismo, cumpriram com zelo e até emoção as obrigações da cadeira de Prática Pedagógica, tornando possível o êxito assinalado. O UniFMU tem um projeto social bastante expressivo, com atendimento médico-odontológico, em suas clínicas, que já alcançou mais de 30 mil pessoas carentes - e agora o processo de alfabetização de jovens e adultos complementa esse esforço exemplar.




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 21/12/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 21/12/2003