Só há uma explicação para a incontinência verbal que assola com frequência membros do governo: a atração pelo desconhecido. Não se dão bem com as palavras, quase sempre não conhecem seu significado, mas vivem às voltas com elas. A falta de intimidade com a linguagem começa pelo presidente, que ultimamente passou a recorrer também aos gestos obscenos, como a banana. Mas sem abrir mão da sórdida infâmia com que, por exemplo, insultou a jornalista Patrícia Campos Mello e os termos impróprios com que xingou o Greenpeace:
“Quem é essa porcaria? Isso é um lixo”. No seu acesso de fúria, Bolsonaro não sabe ou finge não saber que “essa porcaria” é uma organização não governamental que atua em 55 países e cuja luta em defesa do meio ambiente é reconhecida e respeitada internacionalmente há quase meio século.
Desta vez, porém, o protagonismo ficou com o “Posto Ipiranga”, o ministro Paulo Guedes, que, ao debochar das empregadas domésticas e chamar os funcionários públicos de “parasitas”, virou boneco nos blocos carnavalescos, meme nas redes sociais e manchete de jornal como Caco Antibes, popular personagem humorístico de Miguel Falabella que se orgulhava de detestar pobre.
Pior: despertou a curiosidade da imprensa para a própria situação de servidor do ministro. Descobriu-se, por exemplo, que, além do salário de R$ 30,9 mil por mês, ele recebe R$ 8 mil em auxílio-moradia e alimentação, sem contar as passagens aéreas pagas pelo governo. Outra revelação é a de que um grupo de funcionários do Ministério da Economia ganhou em 2019 quase R$ 1milhão em gratificações.
A propósito. Ao comentar a redução do espaço da biblioteca da Presidência da República para abrigar a primeira-dama e sua equipe, Ancelmo Gois escreveu: “Bolsonaro e biblioteca é quase um oximoro”. Como o capitão pode achar que se trata de um palavrão e querer usá-lo contra a mãe de algum repórter, um esclarecimento: oximoro é uma figura de linguagem que ocorre quando duas palavras incompatíveis aparecem juntas. É o mesmo que contradição.