OS ISRAELENSES compradores de papéis antigos descobriram um manuscrito de um senhor Isaac Newton -o autor da teoria da gravidade- dizendo que o mundo vai acabar em torno de 2060. Esse senhor -já que hoje é necessário verificar, diante de tantas operações, se ele não está envolvido em uma delas, quem sabe, a Furacão- é um homem de boa ficha. Edmond Halley, o que deu nome àquele cometa que aparece por aqui entre 74 e 78 anos, dizia dele que "mais próximo de Deus nenhum mortal pode chegar". Halley também foi um desses.
Estudou quase tudo e foi quase tudo. De capitão de navio a inventor de um mapa do tempo e de um sino de imersão, descobridor do funcionamento de marés e do cometa que tem o seu nome.
Já o senhor Newton, dizem, tinha um temperamento na borda da paranóia. Bill Bryson afirma que ele, "depois de tirar o pé da cama para acordar, ficava sentado muitas horas, atacado por uma súbita irrupção de pensamento". Estudou hebraico para descobrir no Antigo Testamento pistas matemáticas para as datas do nascimento de Cristo e do fim do mundo. Agora é justamente em Jerusalém que se descobre o fruto de suas alquimias.
Cá de minha parte fico com as barbas de molho e, toda vez que falam do fim do mundo, tomo minhas precauções, porque já assisti a ele acabar muitas vezes.
Meu primeiro fim do mundo é de quando eu era criança em São Bento, no interior do Maranhão, tempos sem luz, água, penicilina, TV e McDonalds, mas com muita malária e varíola. Foi um "Deus não nos faça isso". As portas de nossa casa foram tomadas por grandes cruzes desenhadas em carvão, para espantar o Diabo, porque eram ele e o pecado os responsáveis. As rezas aumentaram, e os "sinais do fim dos tempos" começaram a aparecer.
Era uma vaca que morria de mordida de porco, uma galinha que cantava como galo e não faltou quem tivesse visto no meio do campo um dragão botando enxofre pela boca, num rolo de fumaça que era absorvido pela escuridão. Todo mundo ficou diferente, e até surgiram histórias de maridos que confessaram pecados e mulheres que botaram para fora suas fraquezas.
Mas, agora, é mais sério. O mundo vai acabar mesmo. É o Vaticano, pela Pastoral do Migrante e das Pessoas Itinerantes, que diz que estamos no fim. Fez um documento (em latim?) com os 10 Mandamentos dos Motoristas Católicos.
A igreja perdeu a fé na vida eterna. A salvação está em evitar desastres de automóvel e em algumas recomendações. Por exemplo, "não use seu carro para uma ocasião de pecado, fazendo sexo inseguro" e "evite rezar ao volante". As Tábuas de Moisés... deixa pra lá. É o fim do mundo.
Folha de S. Paulo (SP) 22/6/2007