Será sempre difícil estimular os jovens da classe média a escolher o magistério com salários que são reconhecidamente dos mais baixos do mundo. A estimativa é de que, nos próximos 5/6 anos, possamos triplicar os números atuais. E, ainda assim, estaremos abaixo de nações como as que foram batizadas de "tigres asiáticos".
Só o aumento de salário do magistério, porém, não resolve. Afinal, o dinheiro no fim do mês, sozinho, não transforma um professor despreparado num mestre eficiente. Há um conjunto de fatores que no Brasil talvez comece nas escolas de formação de professores. Elas continuam deixando muito a desejar.
Segundo um recente levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), na última década, em comparação com estudantes de 65
nacionalidades, ninguém avançou tanto em sala de aula quanto os chilenos. O mérito do Chile foi aplicar com disciplina e persistência iniciativas de eficácia já testadas, com sucesso, em países desenvolvidos. Elas só funcionaram porque permaneceram de pé ao longo de duas décadas ininterruptas – a salvo de trocas de poder, ideologias e ingerências políticas que costumam provocar retrocessos na área.
O motor das mudanças chilenas se alicerça em uma premissa tão básica quanto eficaz: antes, os contratos nas escolas eram pautados por relações pessoais. Hoje, é a competência que determina o destino dos profissionais. Tal como numa empresa, os contratos de professores e diretores só são renovados mediante bom desempenho, o que os deixa em permanente estado de vigilância.
Num contexto de estabilidade econômica e política e com a perspectiva de ombrear-se até 2020, com os indicadores socioeconômicos das nações mais ricas, o Chile tem na educação um ingrediente crucial em seu modelo de desenvolvimento.
No Brasil, vivemos hoje sob o estigma da baixa qualificação escolar. Não é um fenômeno somente brasileiro, pois o presidente Obama, que afirma ter escolhido a esperança em lugar do medo, investe 500 bilhões de dólares anuais em educação. Está impressionado com a má performance de 5 mil escolas norte-americanas e as notas alcançadas nos exames internacionais (Pisa) de Matemática, por exemplo: os Estados Unidos ficaram em 35º lugar, enquanto o Brasil alcançou o 54º, numa competição de 57 países (ano-base 2006).
Partindo do princípio de que "conhecimento é poder", luta-se para reformular os currículos das escolas, abandonando a rigidez curricular que não mais condiz com as necessidades dos que irão buscar de imediato o amparo no mercado de trabalho.
A Gazeta (ES), 8/3/2012