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O dilema americano

 

Passa o Carnaval e temos de sair do sonho da alegria para a realidade que nos cerca. Com um mundo globalizado, tudo que se passa em qualquer lugar e em qualquer hora está dentro de nossa casa. Já longe estão os tempos das Cartas de Inglaterra do Eça de Queiroz, em que o importante é o que ocorre na esquina.


Nenhum presidente dos Estados Unidos deixa o país com um saldo de fracassos e um beco sem saída como o presidente George W. Bush. Eleito nas asas da Corte Suprema dos Estados Unidos e nas sombras de fraude eleitoral na Flórida, num sistema eleitoral que não elege pelo voto popular e, sim, por delegados, Bush exercia o poder sem nenhuma legitimidade. Quem a deu foi Osama Bin Laden, no desvario do terror com os atentados das Torres de Nova Iorque e do Pentágono. Dele se valeu o presidente americano para fazer politicagem explorando o próprio terror, com a criação em seu país de um clima de guerra que estava somente na sua cabeça. Manteve a nação em suspense, inventando a cada dia ataques que não aconteciam, criando um patriotismo que chegava às raias do ridículo - as gravatas eram bandeiras americanas - e, com isto, entre alarmes de amarelo e vermelho e uma linguagem de guerra e ameaças, reelegeu-se.


Pior do que tudo isso: encontrou os Estados Unidos como uma isolada e única super potência, fato inédito em toda a História da humanidade, e jogou tudo fora. Em vez de liderar o mundo para, através da cooperação e da solidariedade, acabar com o terrorismo, resolveu acertar contas com um ditador execrável e cruel, Saddam Hussein (“que quis matar papai”), provocando uma guerra sob a alegação de armas de destruição em massa, que nunca existiram, e agora está numa situação insolúvel, igual à do Vietnã, que já custou milhares de vidas de jovens americanos e de onde não sabe como escapulir. Afastou a Europa, fez renascer a Rússia imperialista, deu à China condições de disputar a hegemonia econômica, gastou trilhões de dólares americanos em armas. Tendo recebido de Clinton - aliás um ótimo presidente – um superávit de 230 bilhões de dólares, com uma previsão de superávit de 5,6 trilhões em 10 anos, igual à dívida total, o crescimento de 50% em termos reais do PIB, entrega o país numa crise econômica que derruba os mercados do mundo inteiro, com 9,2 trilhões de dólares da dívida pública.


Ainda bem que a força dos Estados Unidos renasce sempre. Veja-se agora o simbolismo de um negro, filho de um queniano, disputar com uma mulher brilhante a presidência do país. Um ou outro é uma demonstração da força das instituições americanas.


Queira Deus venha o dia em que possamos ouvir de um deles, como profecia, o chamamento do poeta Walt Whitman: “Welcome, Brazilian brother - thy ample place is ready”.


O Estado do Maranhão (MA) 8/2/2008