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O crime na legalidade

 

No que se tornou uma das passagens mais importantes de "O Poderoso Chefão", a família Corleone decide que um de seus garotos precisa levar uma vida correta, longe do crime, formar-se em direito e se tornar um advogado para, se for o caso, defendê-los na Justiça. É o que os americanos chamam de "go legit", entrar na linha, legitimar-se. Os criminosos descobriam que, quanto mais se infiltrassem formalmente na sociedade, menos precisariam de usar a metralhadora. Enxergaram longe.

Não sei o grau de enraizamento do crime organizado na sociedade dos EUA, mas, no Brasil, as facções criminosas já lucram mais com certas atividades comerciais —compulsórias para os usuários— do que com o tráfico. Entre essas atividades, contam-se o comércio paralelo de gás, energia elétrica, transportes, combustíveis, lubrificantes, cigarros e bebidas, extração e produção de ouro, construção de imóveis em terrenos ocupados, golpes pelo celular e, num resquício das velhas práticas, roubo de cargas e furto de celulares. Atrevem-se até a operar atividades legais, como postos de gasolina e usinas de etanol.

Rendem-lhes mais de cem bilhões de reais por ano.

Folha de São Paulo, 02/03/2025