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O cerco ao Brasil

 

O Brasil sofre na América do Sul uma onda de hostilidade cujas motivações são absolutamente demagógicas e populistas. Nossa conduta com nossos vizinhos sempre foi exemplar. Esse quadro exige de nossa diplomacia um trabalho equilibrado e competente, que ela tem exercido bem, com o aprendizado da arte de engolir sapos.


Criou-se a visão de um Brasil movido apenas por interesses expansionistas, sem nenhum verdadeiro espírito de cooperação e com uma exacerbada gulodice. Isso contrasta com nossa posição de nunca querermos ser hegemônicos, mas evidentemente não importa em vestir a camisa de fraco. O futuro não nos perdoaria.


Na última eleição argentina, o grande chamariz era bater no Brasil, condenar o Mercosul que só estava acabando com o país. Os presidentes dos dois países não deixaram que isso contaminasse nossas relações.


Na Bolívia, o Brasil está no banco dos réus, com a fácil descoberta de um inimigo para desviar a discussão dos verdadeiros problemas internos. Evitar a invasão brasileira é a bandeira.


No Paraguai, a latente questão de Itaipu está no centro das discussões da sucessão. O Brasil é o vilão. O bispo Fernando Lugo, o mais forte candidato nas pesquisas, tem na oposição ao Tratado de Itaipu a bandeira máxima. E a demagogia se encarrega de fazer prosperar essa posição, logo seguida pelos outros contendores.


No Equador, coloca-se a acusação de um Brasil invasor na Amazônia equatoriana tomando ilegalmente seus campos de petróleo. E em seguida prega-se o cancelamento das concessões à Petrobras dos blocos 18 e 31, e do campo Palo Azul.


Na Venezuela, o presidente Chávez tomou a decisão de fazer do país uma potência militar, com a compra de nove submarinos, oito corvetas, 24 caças Sukhoi-30, 35 helicópteros de combate, um sistema de mísseis Tor-M1, 100 mil fuzis Kalashnikov e uma fábrica deles. O projeto é investir US$ 60 bilhões em armas, nos próximos dez anos.


Só o carisma e prestígio, a habilidade e visão do presidente Lula têm evitado confrontos. Sua política de cooperação é certa. É da tradição brasileira e é melhor assim.


O que não podemos é deixar o avanço do antibrasileirismo como moda continental.


Nossa diplomacia tem sido competente em não aceitar luvas, mas esse cerco ao nosso país tem de ser revertido.


Jornal do Brasil (RJ) 15/6/2007