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O caminho da santidade

 

O conceito de santidade ocupa um lugar definido no modo como são julgados os representantes da raça humana que hajam conseguido abandonar o natural egoísmo que nos cerca a todos os que da terra viemos e a ela voltaremos. E o sentimento geral de devoção que é a eles dedicado faz parte da história de cada recanto do mundo habitável. Os santos de cada região são lembrados, reverenciados, suas histórias são contadas e repetidas, de tal modo que uma estatística aponta, para São Francisco de Assis, por exemplo, um número considerável de milhões de livros, orações, lembranças, igrejas que, nas mais variadas partes da terra, lembram sua presença e sua poeticamente santa existência. 


O reconhecimento e a proclamação da santidade são as duas bases sobre as quais a Igreja Católica fundou seu apostolado no sentido de chamar a atenção para os que se dedicaram aos outros, em obras de amor e caridade. Por muito que uma sociedade se afaste da aceitação da santidade, foi, ao longo dos tempos, a presença dos que vieram a ser proclamados santos que mudou caminhos e abriu rumos. 


Santos foram pessoas em geral normais cujos atos levaram as autoridades da Igreja a abrirem processos especiais que definissem, num processo gradativo, o Venerável, o Beato e o Santo. 


De vez em quando se comenta, não só nos círculos católicos brasileiros, mas também em avaliações fora da Igreja, o fato de o Brasil, sendo um país de catolicidade confirmada, não ter ainda um único santo. Há, na realidade, 54 processos envolvendo vários candidatos à beatificação no Brasil, além dos já Beatos José de Anchieta e Frei Antonio Galvão, este nascido no Brasil e o único brasileiro nato a ser beatificado.  


E temos uma santa, nascida na Itália, mas de atividade brasileira. Foi Madre Paulina (Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus) que concentrou sua atividade religiosa num convento da cidade de Nova Trento, Santa Catarina. Foi Madre Paulina beatificada pelo próprio Papa João Paulo II em Florianópolis a 18 de outubro de 1991. 


Num levantamento completo do assunto enumera José Luís Lira, em seu livro Candidatos ao altar, os nomes que se acham na lista de sessenta processos brasileiros de Beatificação-Canonização do Vaticano. Entre eles, vale a pena mencionar Madre Maria José de Jesus, filha de Capistrano de Abreu, o grande historiador.  


Madre Maria José de Jesus, cujo nome era Honorina de Abreu, foi criada e viveu na alta sociedade do Rio de Janeiro, até que, durante um baile, aos 29 anos, resolveu deixar tudo e enclausurar-se na qualidade de monja carmelita no Carmelo de Santa Teresa do Rio. O pai que dera novos rumos à historiografia brasileira, não professava religião alguma e nunca aprovou a decisão da filha, mas não a impediu de seguir sua vocação, com ela tendo mantido correspondência a vida inteira. Madre Maria José de Jesus viveu em oração e dedicação até morrer.  


Durante nove mandatos ocupou ela o cargo de Priora do convento. Tendo tido formação literária das melhores, deixou uma obra poética e escreveu livros. Falava fluentemente sete idiomas e traduziu, do latim para o português, a Imitação de Cristo. O nome de Madre Maria José de Jesus consta do Protocolo 1691, com Nihil Obstat datado de 26 de outubro de 1989, do Vaticano, como candidata a Beatificação. 


Entre os candidatos registrados em Roma acha-se um japonês brasileiro, Domingos Choachi Nakamura, nascido em Nagasaki, onde se ordenou sacerdote católico. Veio para o Brasil em 1923 e aqui desenvolveu trabalho missionário entre grande número de descendentes de japoneses, tendo participado da fundação do Colégio São Francisco Xavier e foi um missionário itinerante tanto no Estado de São Paulo como em outros lugares do Brasil.


Os candidatos mais antigos da relação de possíveis beatificados são os 40 mártires, mortos no primeiro século de nossa história. Eram todos jesuítas: o Padre Inácio de Azevedo e 39 jovens que, de viagem para o Brasil, foram martirizados por calvinistas e protestantes. Em grande maioria, os jovens mártires tinham entre 16 e 18 anos.


O importante, no livro de José Luís Lira, é a precisão das informações e o espírito religioso com que foi feito. A história do Brasil depois que os portugueses aqui chegaram, esteve sempre ligada a problemas religiosos da Europa. A cisão provocada por Lutero e Calvino implantou-se em pleno Rio de Janeiro, cuja fundação se deveu mesmo a essa luta européia, e se manteve conosco, de uma ou de outra maneira, desde então.


A José Luís Lira ficamos devendo essa informação completa sobre aqueles e aquelas que, mais próximos de nós, também se acham próximos da santidade. O que, para um país de formação católica e religiosa como o Brasil, significa muito.


Candidatos ao altar sai sob a égide das Edições Abrahagi, da Academia Brasileira de Hagiologia de Fortaleza. Coordenação editorial de Maria Norma Maia Soares, digitação de Eliane de Araújo Lira e capa de Rafael Benavides.


Tribuna da Imprensa (RJ) 27/6/2006