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O Brasil, trincheira da diferença

 

No reforço do Estado Islâmico nos últimos meses, de par com a recusa maciça europeia à migração árabe e africana, o advento político crescente da direita de Le Pen, na França, ampliou a inquietação com o avanço do fundamentalismo, hoje, como tônica identitária do Primeiro Mundo. Essa inquietação aumenta com o perigo de uma vitória republicana nos Estados Unidos e a possível regressão da secularidade religiosa no país. Nesse contexto, onde estão as "trincheiras da diferença" e de seu reforço na coexistência política contemporânea? E por onde avançará a luta contra os estereótipos nacionais e a abertura à complexidade pedida pelo desenvolvimento, frente aos fixismos das representações coletivas? 

Deparamos, hoje, especialmente entre nós, o papel do país na manutenção da língua portuguesa. Defrontamos a crescente rejeição à nossa língua nas antigas províncias africanas do império lusitano. Aí estão a Guiné-Bissau, a assumir, hoje, o francês; Moçambique, no crescente recurso ao inglês, como reflexo da sua entrada na Commonwealth; e Cabo Verde, sobretudo, com a assunção do crioulo. 

Observamos em nosso país, ao mesmo tempo, o advento de diásporas, com a vinda maciça de haitianos à Amazônia, a reivindicar a língua crioula como sua marca diferencial. 

Distingue-se, por outro lado, o nosso protagonismo pela associação com os Brics, a sair de uma moldura internacional condicionada pelos Estados Unidos à velha ótica de centro e periferia. Esse novo desempenho avança, inclusive, a partir de tensões dentro do bloco, frente ao expansionismo chinês em Angola, e na busca hiperplanejada do mercado latino-americano.

No horizonte do avanço mundial do fundamentalismo, assentamos a alternativa para uma modernidade que ainda assegure uma efetiva prospectiva para o nosso desenvolvimento. 
 

Jornal do Commercio (RJ), 31/07/2015