As pesquisas de opinião revelam o que não se imagina nos bastidores da política e em outros bastidores. Por exemplo, as pesquisas apontam que Luiz Inácio Lula da Silva ultrapassou os 50% para um "terceiro turno", considerando como ele mesmo disse que não dá para fazer tudo em 8, 9 ou 10 anos...
O retirante das soalheiras do Nordeste, e ex-torneiro mecânico, conquistou o que queria, a aprovação de mais de metade do eleitorado: 50% votaria nele para um terceiro mandato na Presidência da República. Sabe-se que essa porcentagem já vinha sendo veiculada pelos bastidores e agora é pública.
Reconheçamos o êxito do modesto operário de São Bernardo do Campo convertido em presidente da República, sem nada conhecer do seu mister. A regra é, no regime presidencial ou na república parlamentar, que se elejam figuras populares como Lula da Silva; um vitorioso no terreno, sem dúvida nenhuma.
Lembro aqui que quando Adolfo Suarez empreendeu uma viagem pela América Latina, foi recebido no Bandeirantes pelo governador Paulo Maluf, que lhe perguntou a quem ele queria encontrar. E ele respondeu que na Espanha do seu tempo era normal quererem conhecer melhor o presidente... E Lula era um líder sindical e não ocupava nenhum cargo público.
Hoje, Lula não se faz mais celebrizar-se para ser conhecido; ele já é conhecido embora, a meu ver, seja circunstancial o seu prestígio atual, mas esse é outro assunto que não convém discutir aqui, nem nesse momento, que pode fazer de José Serra o sucessor de Lula.
Seria interessante termos novamente na corrida presidencial o ex-debatedor do "Jornal da Tosse" da Rede Record, na época de Paulo Machado de Carvalho, contra o retirante das soalheiras de sua terra natal. Isso é de somenos da vida de um lutador político, com amigos e inimigos, com adeptos e adversários, mas de qualquer maneira vitorioso. Reconheçamos, enquanto é tempo.
A ascensão de Lula foi rápida e ele soube aproveitar as oportunidades para seu crescimento político, o que o colocou em primeiro lugar para a massa de mais de 50% dos eleitores pesquisados.
A Presidência sempre foi tida como um expoente na escolha de seus chefes. Vê-se que não é tanto assim. Quando menos se espera, surge um Lula com excesso de carga junto ao eleitorado.
Diário do Comércio (RJ) 30/4/2008