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Nosso próximo Oriente Médio

 

No quadro das nossas relações internacionais, quando buscamos a participação definitiva no G-20, o Brasil não utilizou, ainda, a fundo, a sua “carta na manga”, qual a profundidade das nossas relações com o Líbano e, por aí, a de um fazer-se ouvir no Oriente Médio. Dentro desse horizonte, só poderá crescer nos próximos meses a nossa capacidade arbitral frente aos novos conflitos com os curdos e aos surtos nacionalistas no leste turco. Da mesma forma, uma presença internacional, fora do continente europeu, poderá ajudar no reforço ao diálogo de Erdogan com a Europa, isolado no seu autoritarismo, e a enfrentar a ruptura de relações com a Rússia.

As migrações libanesas para o Brasil começaram em 1880, numa disseminação que manteve suas características comunitárias e religiosas, ambas ligadas ao cristianismo. Não há precedentes de um peso demográfico como o dos libaneses no Brasil, a chegar aos 10,5 milhões contra, tão só, os 4,5 milhões vivendo no território nacional. Mais ainda, sua presença, entre nós, é de uma minoria viva, de profundas raízes, no empenho comunitário e na presença de representação política. Na contrapartida dos libaneses entre nós, são 10 mil brasileiros que se concentram, hoje, numa das regiões mais ricas do Líbano, o Vale do Beqaa. E só se expande a relação econômica entre os dois países, que cresceu, de 2005 a 2014, 156%.

A população libanesa islâmica é, curiosamente, xiita, num complexo geográfico marcado pelo sunismo. Abriga a militância de Hassan Nasrallah, do Hezbollah, como braço distante do credo iraniano, na procura de um equilíbrio na coexistência com o Oriente Médio. O que está em causa, sobremodo – em bem da paz da região, no confronto dos Estados sunis e xiitas-, é o impasse no perene propósito de guerra com Israel e a sedimentação do estado Palestino. Mas é todo esse conflito estrutural que se paralisa após a catástrofe de Paris, com a possível disseminação, numa “guerra de guerrilhas”, do confronto com o Isis. Os atentados, quase sincrônicos, no último dia 13, em Paris e, um dia antes, no norte de Beirute, em sintonia com as explosões em Túnis e com os sequestros do Mali, abrem o horror, de vez, das complexas guerras “sem rosto” e de uma militância sem quartel.

Jornal do Commércio (RJ), 04/12/2015