Não temos, na nossa história política, momento como o de agora, em que chegamos aos extremos do risco da desestabilização. Ao mesmo tempo, toda essa tensão se mantém, ainda, dentro do jogo das instituições e da democracia, a salientar a nossa maturidade política. De saída, deparamos o contraponto entre o impeachment da presidente e o contraimpeachment do vice-presidente, de par com a abertura de inquérito, pela Procuradoria-Geral da República, contra Dilma Rousseff (PT). O crescente esfacelamento partidário torna cada vez mais precária a previsão do que seja o jogo de efetivas maiorias políticas. Nada de mais paralisante que a expectativa de que, no impasse do Executivo, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), venha a assumir a presidência. Paralelamente, há o clamor por novas eleições em 90 dias, mas limitadas ao voto pela presidência. A ida às urnas só acelerará, entretanto, o conflito com os setores oposicionistas, tanto a previsão de seu desfecho eleitoral aponta à clara eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na presente polarização política, torna-se cada vez mais nebulosa a tese de um pacto de normalização em que se busquem transigências de parte a parte, tal como começam a propor as lideranças da consciência jurídica do País. Evidentemente, omitem-se dessa iniciativa os pré-candidatos ao pleito de 2018, a partir de Geraldo Alckmin (PSDB) ou de José Serra (PSDB). Esse possível catastrofismo é ainda antecipado pelo inevitável caos que acarretará a cassação de Cunha, tendo-se em vista a força de todas as suas alianças na Câmara e a imprevisível resistência de trincheiras. O último possível delfim do caos pressentido, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mantém-se, desde agora, na prudência e num neutralismo quase agonístico, frente aos dilemas de um possível apoio. Estamos diante desse paradoxo final em que a manutenção da democracia e seu jogo deparará o desgaste final que a corrupção trouxe à liderança política do País.