A aceitação, pelo presidente da Câmara dos Deputados, do pedido de impeachment de Dilma Rousseff veio agravar a situação caótica em que já se encontrava o governo federal.
Em face disso, o PT, Lula, Dilma e seus aliados voltaram a falar de golpe, muito embora o impedimento do presidente da República seja um dispositivo da Constituição brasileira. Não se trata, portanto, de golpe.
E tanto isso é verdade que a própria Dilma, num de seus pronunciamentos, afirmou que irá lutar por seu mandato, lançando mão de todos os recursos que a Constituição lhe garante. Fora isso, como se sabe, a aceitação do pedido de impedimento é apenas o início de um longo processo que, além de uma comissão integrada por membros de todos os partidos, tem que ser aprovado por maioria de dois terços na Câmara Federal e depois no Senado. Chamar tal procedimento de golpe é querer, mais uma vez, enganar a opinião pública.
Aliás, os petistas são mestres nisso, a começar por Lula que, cada vez que fala, inventa uma versão nova dos fatos. O PT esteve à frente ou participou de pedidos de impeachment tanto de Itamar quanto de Fernando Henrique Cardoso e de Fernando Collor. Nesses casos, não era golpe, mas, contra Dilma, é. E os petistas afirmam isso com a maior desfaçatez.
Não sou a favor do impeachment da presidente Dilma, mas sou obrigado a admitir que não se pode confiar o governo da nação a pessoas que não têm qualquer compromisso com a verdade. E, agora, tendo que enfrentar o pedido de impedimento, as inverdades vão aumentar em número e tamanho: Lula já passou a dizer que se trata de um golpe contra o povo brasileiro e Dilma responsabiliza a oposição pelo agravamento da crise por que passa o país, pois ergue a bandeira do quanto pior, melhor.
Estão entendendo? A culpa da situação crítica que enfrentamos cabe à oposição, não ao governo. Se o déficit orçamentário atinge bilhões de reais, se o desemprego cresce assustadoramente e a inflação chega a 10%, a culpa é da oposição. Como faz isso, ninguém sabe, nem Dilma explica. Outra tese nova, que ela acrescenta a suas acusações é de que a oposição pretende tirá-la do governo para desfazer tudo de bom que ela e o Lula fizeram em favor dos pobres. Por coincidência, é a mesma acusação que fazia a seus opositores, o presidente Maduro da Venezuela, ao ver que ia perder as eleições de domingo passado, e perdeu. Aliás, Maduro é certamente o maior mentiroso da América Latina.
Já comentei, nesta coluna, a estranha atitude do PT diante da prisão de seu principal representante no Senado Federal, o senador Delcídio do Amaral. Causou surpresa a nota em que o presidente do partido negou solidariedade a ele. Foi uma atitude inesperada, uma vez que, em todos os casos anteriores envolvendo membros seus, a atitude do partido foi defendê-los e solidarizar-se com eles. Ninguém duvida do envolvimento de José Dirceu ou João Vaccari Neto nas falcatruas denunciadas pela Operação Lava Jato. Por que, então, tamanho repúdio a Delcídio?
É que, depois de tantos membros seus envolvidos em corrupção, o PT aproveitou a oportunidade para posar de defensor da moralidade. E se a tal nota causou surpresa, maior surpresa causariam as medidas posteriores, tomadas contra Delcídio do Amaral.
Com um rigor inusitado, nunca antes visto na história desse partido, sua direção decidiu expulsá-lo do quadro partidário, enquanto iniciava uma avaliação de seu comportamento antiético. Se a avaliação concluir pela gravidade dos delitos cometidos por ele, a sua expulsão será decididamente consumada. Isso para que ninguém pense que o PT tolera a corrupção. Ao ler tais notícias, fui obrigado a dizer a mim mesmo: nem parece o conhecido partido do rouba e deixa roubar.
Sucede, porém, que a expulsão de Delcídio não vai se consumar. Segundo soube, o ex-presidente Lula –que burro não é– se deu conta de que a direção do PT estava sendo ética demais e aconselhou o Rui Falcão a frear sua fúria moralizante. É que o defensor dos pobres não prega prego sem estopa –sabendo muito bem o que Delcídio poderia contar numa delação premiada, tirou o cutelo das mãos do Falcão.