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Nem tudo está perdido

 

Um dos nossos orgulhos é manter com o ex-ministro Ernane Galvêas uma boa relação de amizade. Embora ele seja predominantemente economista, com brilhante passagem pela Universidade de Yale, não descansa das suas preocupações, como brasileiro, pelo destino da nossa educação. É rara a semana em que não trocamos informações sobre o que se passa no mundo da pedagogia. Ora para discutir métodos de alfabetização de jovens e adultos, ora para orientar a posição da Confederação Nacional do Comércio no que se refere à reforma universitária. O presidente Antonio Oliveira Santos deseja colaborar com os esforços do MEC, mostrando um vigoroso empenho na valorização do setor terciário da economia.


 Há uma tendência, na praça, de pensar a nova universidade segundo padrões industriais, como se pudéssemos descurar das políticas de recursos humanos dos setores primário (agricultura) e terciário (comércio), sem esquecer o hoje existente e progressista setor quaternário, onde se abriga a informática.


A última conversa com Galvêas foi animada. Ele reclamou, com justa razão, que fizemos menção aos bons resultados do projeto "Escrevendo o Futuro", promovido pela Fundação Itaú. Integramos o júri que escolheu os melhores trabalhos, dentre os mais de um milhão apresentados, das 10 mil escolas públicas que, em todo o Brasil, inscreveram-se no concurso, com o objetivo de prestigiar a língua portuguesa. Mas esquecemos de citar o nome da escola e da professora, que merecem as homenagens de todos nós, pois certamente foram essenciais na sua formação, ao lado dos pais.


Estamos fazendo melhor. Vamos dar os nomes dos três vencedores, como forma de prestigiar os que se esforçaram mais, no sentido de destacar o quanto devemos nos preocupar com a língua de Camões e Manuel Bandeira. Aí vai a relação: 1O) Giselle Santos de Paula ("No morro não tem só bandido") - Escola Municipal Alice Tibiriçá (Rio de Janeiro) - professora Myrian Rodrigues da Silva Munhoz; 2O) Tairine Silva Ribeiro ("Da lamparina à energia elétrica") - Escola Estadual Professora Joanita Carvalho (cidade de São João de Iracema - SP) - professora Mary Silveira Oliveira Codinhoto; 3O) Euler Júnior Machado ("Minha terra, minha gente") - Escola Municipal José Henrique Avelar (cidade de Santo Antônio do Amparo - MG) - professora Rosely Jacqueline da Silva Oliveira.


A que conclusão que podemos chegar? Em grandes centros urbanos ou em pequenas cidades do interior, em favelas ou em conjuntos habitacionais, desde que haja uma vontade clara é possível trabalhar com afinco pelo nosso idioma. Louve-se, no caso, a figura da diretora da escola pública, elemento-chave desse processo, e principalmente a professora, em geral mal-remunerada,mas que não esconde o seu grande amor pela missão que anima a sua vida. Somos testemunhas disso, viajando por todos os municípios do Rio de Janeiro, quando ocupamos a Secretaria Estadual de Educação (quatro anos) e sentindo, de forma inequívoca, o que é o exercício pleno de uma vocação sagrada. O concurso revelou isso na plenitude, mostrando que nem tudo está perdido.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 10/01/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 10/01/2005