Lá encontrávamos sempre dezenas de pedintes e pobres que eram de sua assistência. O IPHAN e a Fundação Municipal de Patrimônio Histórico, sob o comando caridoso de Kátia Bogéa — essa brilhante mulher que fez a restauração de muitos monumentos históricos do Maranhão e continua nesse amor maior construindo o Museu Nacional do Azulejo, no belo prédio de 200 anos chamado Solar dos Tarquínios —, recuperaram a igreja, que teve o seu altar-mor todo restaurado. Ali está guardada a mais bela imagem de São Benedito.
Agora meu pensamento, ao ouvir os sinos do Natal, me leva a Frei Agostinho, que rezava a missa já com intimidade com Deus, o que lhe fazia erguer lentamente a hóstia e o cálice durante a Eucaristia. Era um franciscano entre a vida e o Eterno.
Nascera às margens do Lago de Como, de onde saiu para o Maranhão, nos anos 1920, na missão de evangelizar. Caminho igual ao dos capuchinhos mandados por Maria de Médicis, 300 anos antes, para converter os índios, afastá-los do Diabo, que foram os primeiros pregadores na Amazônia.
Frei Agostinho parecia um deles, queimando suas bondades — como dizia Caminha — para afastar o Demônio e o pecado. Atravessou o tempo, assistiu ao Concílio Vaticano II e não abandonou suas sandálias de couro, sua batina de brim marrom com cordão de corda branca, seu crucifixo de madeira, sua barba longa e branca, mais pobre e sofrido que as cabras. Durante oitenta anos, catequizou e converteu almas. Construiu muitas igrejas, em torno das quais as cidades nasceram, a maior delas em Imperatriz, no tempo em que a vila era apenas um pouso.
Frei Agostinho despiu-se de pátria e família por amor a São Francisco e a Deus. A voz mansa, os olhos já fundos eram como poços sem água, onde as lágrimas, pelo tempo, secaram. Era um frade simples, sem misticismo, sem apelações. Foi envelhecendo, suas missas já eram cansadas e sua voz vinha lenta. Mas, de repente, de seus lábios brotavam os movimentos, como falavam os profetas. Com grande firmeza, descobria no Evangelho argumentos, ensinamentos, conclusões. A missão da Igreja era anunciar a Vida Eterna. Nada da Igreja da Libertação. Sua Igreja era a igreja da oração. Saíamos de sua missa invadidos de Paz.
Seu corpo acabou. Caiu, sua coluna sofreu, dobrou-se no sofrimento. Sem poder mais ser o apóstolo das selvas, foi recolhido ao Convento do Carmo, em São Luís, só com sua dor e as lembranças de missionário. Deram-lhe como tarefa ser o confessor da velha Igreja do Carmo.
Dona Cotinha fora encarregada de buscar Frei Agostinho para, aos domingos, celebrar a missa dos pobres na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, igreja pequena, feita por doação de escravos. Pobre, sem ouro, prata ou talha. Despojada, paredes brancas e lisas. Frei Agostinho vinha curvado, arrastando os pés, trôpego, com os olhos de dor. Recebia apenas uma pequena espórtula. Uns pobres meninos de rua o derrubam para roubar. Aumentam seus sofrimentos. Um irmão manda buscá-lo para morrer na Itália.
Frei Agostinho embarca, apoiado em sua bengala, cercado das lágrimas e dos fiéis que lhe queriam bem. Afirma: "Viajo amargurado. Minha morte será mais sofrida. Queria ficar no Maranhão."
Lembro-me de quando estávamos preparando a Festa do Natal e, durante a missa, o celebrante, o reitor do Convento do Carmo, anunciou:
— Quero dizer aos fiéis que Frei Agostinho, pelo milagre da saudade, está melhor e quer voltar ao Maranhão. Chegará no dia 8 de janeiro!
Nossos sinos do Natal ainda têm o som das barbas desse frade missionário que renova o milagre da ressurreição na sua volta para ficar conosco na terra do seu amor e do seu sofrimento.
Como o Padre Vieira, que tanto castigou com sua palavra de fogo o Maranhão, quando lhe perguntaram onde queria morrer, respondeu:
— No Maranhão!