Pelo que se leu e se ouviu das mensagens trocada pelos golpistas de Bolsonaro, reveladas há pouco pela Polícia Federal, uma coisa pareceu clara: aqueles generais podiam ser tudo, menos cínicos. Acreditavam de verdade que as eleições tinham sido fraudadas e que, se o comunista Lula subisse a rampa, a liberdade iria para o beleléu. O grau de desespero em suas falas indicava uma urgência, uma premência, uma emergência de, literalmente, dar a vida para salvar o Brasil. Pois era a vida que eles estavam botando em jogo ao calcular, entre as probabilidades do desfecho, a possibilidade de o golpe fracassar —e, mesmo assim, valeria a pena.
Você se lembra: "Tá na cara que houve fraude, porra. Não dá mais pra gente aguentar essa porra. Tá foda! Tá foda! Eu sou capaz de morrer, cara, pelo meu país, sabia? Pelo meu presidente. Eu não consigo vislumbrar, né, meus sobrinhos, né, os filhos pequenos dos meus amigos, das minhas amigas, vivendo sob o julgo [sic] desse vagabundo [Lula]. Aprendi na caserna a honrar o meu presidente [Bolsonaro]. E eu tô pronto a morrer por isso".
Mas algo aconteceu porque, desde a divulgação dessas bravatas, as ditas urgência, premência e emergência parecem ter desaparecido das preocupações dos salvadores do Brasil. O discurso hidrófobo e o esperneio histérico tornaram-se, de repente, o obsequioso silêncio diante da Justiça, só quebrado pelas negativas de que planejavam um golpe e que, por ele, seriam capazes de tudo.
Terá sido isto que aprenderam na caserna, a recolher o rabo quando ele é posto de fora? E o país pelo qual dariam a vida? Não é digno de uma confissão aberta, corajosa, de quem jurou manter a pátria livre ou morrer pelo Brasil? Ou descobriram que, se apertado, o presidente pelo qual estavam também prontos a morrer os deixará pendurados na brocha, como já fez com tantos?
Talvez por isso tenham mudado de estratégia. Para salvar a pele, um certo cinismo, como negar tudo o que foi dito por escrito e falado nos mais insuspeitos celulares, é até aceitável, não? Acontece nos melhores quartéis: a coragem dentro da farda esvai-se numa fralda.