Leio no influente jornal O Globo a seguinte manchete: Consumo do Nordeste passa o do Sul e já é 2º do país. Lembro do Nordeste do cangaço, de Gilberto Freyre, de Casa Grande Senzala, do Padre Cícero, da literatura nordestina e de tudo o que constituiu ainda o folclore nordestino, com as suas soalheiras, seus retirantes e seus paus de arara, para ficarmos por aqui.
Na evolução do consumo os nordestino não estão sozinhos, mas entram aí as construções caras dos balneários, de Fortaleza a Salvador, que deram impulso notável a todo o Nordeste, a ponto de terem vôos internacionais diretos. Assim é que o Nordeste cresceu como consumidor, chegando, portanto, ao segundo lugar do País.
Nos habituamos a um Nordeste folclórico apegado às suas tradições, às suas músicas aos seus costumes, ao culto pelos escritores nordestinos e portugueses pela cozinha baiana e nordestina em geral, com seus pratos típicos, que só muito recentemente chegaram ao Sul , juntamente com as rendas bordadas à mão que fazem muito sucesso.
Enquanto isso, em muitos lugares as torneiras não jorram água para o uso doméstico, restando a chuva, que cai poucas vezes, para salvar a terra e o gado. Numa palavra, o nordestino era o primo pobre dos brasileiros, enquanto a região Sudeste atrai gente do Nordeste com empregos e negócios, para aumento da renda. Agora está mudando; com esse consumo elevado o Nordeste está indo às compras graças a alta do salário mínimo e de outras benfeitorias do governo federal para a região.
Com isso, se incorpora à produção nacional uma massa humana colossal, sendo, ao mesmo tempo uma conquista social sem paralelos na história, beneficiando milhões de brasileiros. Tudo isso foi possível graças ao lazer dos ricos da classe média endinheirada, que lotou os balneários do Nordeste. Podemos assinalar que o progresso está vindo sem pressa, na carreira dos anos, favorecendo, assim, as populações que não podiam gozar das vantagens culturais do Sudeste e de outras zonas do País.
O nordestino deixou de ser sinônimo de faminto para vêmo-lo incorporado a uma civilização urbana que retribui os favores recebidos.
São essas as nossas considerações sobre a manchete d'O Globo sobre o papel que o Nordeste vem desempenhando no Brasil há certo tempo.
Diário do Comércio (SP) 26/5/2008