Temos comentado tantas vezes o tema das crises, que até se impõe que o deixemos em paz, ao menos algum tempo. Agora vemos a família e a desobediência que jovens imaturas, adolescentes mesmo, entram pela senda do crime e estão indo para a cadeia, condenadas pelos júris que tem o dever de desempenhar, em nome da sociedade, seu papel de julgador imparcial, mas severo nessa imparcialidade, a fim de combater ou ajudar a fazê-lo, o crime que se espalha.
Faz poucos dias, família de Campinas, com exceção apenas de uma das meninas que não entrou na via da morte, por ter sido a autora do instrumento do crime, segundo as primeiras investigações. Uma adolescente de quinze anos, tão somente quinze anos, e já motivada por outros exemplos, resolveu preparar um bolo com arsênico, veneno violentíssimo ingerido em quantidades letais, e viu seus pais comerem o bolo, para morrerem.
A menina, contudo, com a maior frieza, com total insensibilidade, pois, pela aparência e pelo noticiário procedente da cidade vizinha, eram todos os membros familiares bem amigos uns dos outros, com a autoridade dos pais e que tratava as filhas com o maior carinho. Um médico, portanto, uma pessoa com formação superior, queria sua família bem constituída e suas filhas bem encaminhadas nos estudos para terem uma vida feliz, com um casamento também feliz.
Não contavam, porém, que a traição da menor, a que comeu um pedacinho do veneno sob a forma de bolo sem despertar suspeita. Mas não seria preciso um Sherlock para descobrir o assassino. Ele, no caso ela, estava ali, perto dos infelizes pais e irmãs, que comeram um belo portador de veneno violento, do qual não poderiam escapar, a menos que soubessem o que os esperava na ingestão da iguaria. Está aí um sinal da crise da família, com os jovens se perdendo em vícios, em drogas, em experiências sexuais, para aumentar a inquietação que vai tomando todos quantos vivem nesta conjuntura de amedrontar.
Diário do Comércio (São Paulo) 11/02/2005