Em São Paulo, busca-se valorizar o livro por intermédio de projetos como “Um Estado de leitores” e “Ler é preciso”, do Instituto Ecofuturo. Não se pode afirmar que, assim, todos os problemas que cercam o assunto estarão resolvidos, mas é um esforço elogiável. Há experiências bem sucedidas que devem ser compartilhadas com outras unidades da Federação, com vistas a uma possível generalização de políticas públicas que não devem tardar.
O livro é caro para a maioria da nossa população. Falta estímulo, na escola e no lar, para a valorização do que chamamos de gosto pela leitura. É um grande esforço que deve ser feito, como vimos no Japão (os pais lêem livros para as crianças, antes que elas adormeçam). Em outro plano, colocamos a alfabetização eletrônica. Há uma ação desenfreada de procura de computadores, com todos os seus atrativos de blogs e jogos de última geração. Isso precisaria ser feito em doses menores. Se os pais não cuidam da dosagem correta de acesso a esses avanços., quem há-de colocar freio nisso?
Temos 16 milhões de analfabetos, o que não é pouco. Se juntarmos mais 50 milhões de semi-analfabetizados, o número se torna “atômico”. Faltam incentivos oficiais à distribuição de livros. Não adianta comprá-los (128 milhões em 2008) e jogar na escola, como se fossem merenda. Onde fica o treinamento dos professores, para otimizar o processo?
No Brasil, não concordamos que haja o desprazer pela leitura. O que há é muito desconhecimento. Só o livro sedimenta a cultura de um povo. A leitura é esencial, para que se escreva melhor. Isso é comprovado cientificamente.
Os pais são os primeiros mestres dos filhos. Ninguém entra para a escola com dois meses de vida. Suas primeiras ações são fundamentais. Vimos essa experiência de valorização do hábito de lidar com livros na França, no seu famoso Atelier des Enfants (Centro Georges Pompidou). A leitura começa com as ilustrações atraentes, a descoberta das letras, a visualização de outdoors. Nisso, até, a televisão tem ajudado. Pena que a sua programação seja aleatória, com muitos filmes importados sobre violência. Nossas crianças também são atraídas por contos de fadas. E Monteiro Lobato tem um lugar especial, no imaginário infantil, o que deve continuar a ser explorado por diferentes meios de acesso à informação, como é o caso da TV.
Há idade para tudo. O gosto pela leitura deve ser adquirido desde o início do processo educacional. Depois, quando adolescentes, os jovens sentirão grande apreço pela leitura. Se não começar desde cedo, o êxito é quase impraticável. Tem sido assim em outras regiões do mundo, como na Escandinávia, cujo exemplo é muito nosso conhecido.
Tivemos uma grande experiência na condução do sistema do ensino público do Rio de Janeiro. Exercendo por duas vezes a Secretaria de Estado de Educação e Cultura, realizamos diversos concursos, maratonas, projetos de incentivo à leitura (PIL). Os resultados foram esplêndidos. Infelizmente, essas promoções sofreram solução de continuidade. Todos esses eventos tiveram o apoio decisivo da Academia Brasileira de Letras, cujo Estatuto, elaborado por Machado de Assis e Joaquim Nabuco, prevê cuidados especiais com a língua portuguesa e a cultura nacional. Por isso, a ABL sempre abrigou essas realizações em sua sede centenária e distribui livros às melhores redações. Ela continua disposta a fazer isso, mas é preciso que as autoridades educacionais tomem a iniciativa.
A Gazeta (ES) 28/3/2008