Com o aumento da expectativa de vida do povo brasileiro, que hoje chega aos 74 anos, é natural que o fosso intergeracional se alargue. Os interesses também se modificam, e de forma rápida, devido às inovações científicas e tecnológicas do nosso tempo. Por isso, o que empolga os jovens não é necessariamente o que encanta os mais velhos.
Vivemos todo tipo de preconceito, cor, status social, sexo, religião e até um discreto deboche contra os baixinhos. Agora, parece que se arma no horizonte uma animosidade contra os mais velhos, que costumamos chamar carinhosamente de “coroas”. E isso se revela exatamente onde o mundo demonstra os maiores avanços científicos tecnológicos, que é o campo da tecnologia da informação (TI), nos países desenvolvidos.
Fomos surpreendidos com a informação de que jovens de 13 a 17 anos demonstram os primeiro sinais de cansaço em relação ao uso do Facebook, notável criação de Mark Zuckerberg, hoje com mais de 1 bilhão de usuários. A explicação é muito simples: “Os “coroas” estão dominando a tecnologia. Se eles querem, devemos sair para outra.” É claro que já existe a alternativa. Trata-se do Snapchat, utilizado para o envio de vídeos e imagens em geral que desaparecem segundos após ser vistos. Na verdade, os jovens se encantam por um grande número de aplicativos, como o WhatsApp, o Instagram (em grande progresso), o Vine (mensagens de seis segundos, comprado pelo Twitter), o Ask.fm (perguntas e respostas) e o Tumbir, que é um sistema de blog para enviar textos, imagens e vídeos que podem ser republicados por outros usuários. Como se vê, a variedade é grande e inestancável, para a fértil e lucrativa criatividade dos grandes cientistas. É natural, pois, que os aplicativos sejam substituídos por outros mais modernos – e com isso a garotada se diverte, ampliando o uso das maquininhas.
Os idosos são mais conservadores. Eles gostam de fazer as suas refeições familiares sem o emprego concomitante dos incríveis tablets e celulares. Os jovens, mesmo contrariando a orientação dos pais, dividem suas atenções durante almoços e jantares, apertando as teclas entre uma garfada e outra. As broncas são comuns, pois o fenômeno altera os procedimentos da família. Os diálogos têm sido mais escassos e ainda mais com essa novidade se tornam quase nulos.
O tema chegou às escolas. Em muitas delas, a direção proíbe o uso dos celulares em sala de aula, a fim de não desviar a atenção das explicações dadas (e insubstituíveis) pelos professores. Os conhecimentos que podem ser hauridos do Google, por exemplo, para enriquecer o conteúdo das aulas, devem ser colhidos em casa, nas horas destinadas aos estudos. Já se sabe que, hoje em dia, escolas famosas, como a de Harvard, passam os deveres aos seus estudantes e os mestres, em sala, dividem o seu tempo nas explicações concernentes. Assim se cria uma nova harmonia na relação ensino/aprendizagem. As aulas lineares e sequenciais ganham contornos mais modernos e proveitosos.
Voltando ao Facebook, um indiscutível sucesso, inclusive de faturamento com os pródigos anúncios, não há que se estranhar que os jovens comecem a se cansar do seu uso indiscriminado, buscando outras alternativas. Essa inquietação é própria daidade. Por outro lado, sabe-se que o ciclo de vida das redes sociais tem limitações. É natural que se busquem inovações.
Jornal do Commercio (RJ), 14/2/2014