Quincy Jones, morto no dia 3 último, aos 91, recebeu um Oscar póstumo da Academia de Hollywood por sua contribuição ao cinema. É justo. Uma contribuição que não se limitou a produzir vibrantes scores para filmes como "A Sangue-Frio" (1966), de Richard Brooks, ou "No Calor da Noite" (1967), de Norman Jewison. O mais importante já acontecera antes. Em 1964, ele fora o primeiro compositor negro a produzir um score para um filme americano usando todas as possibilidades de uma orquestra: os sopros, a percussão —e as proibidas cordas.
Os músicos negros não eram chamados a compor nem para filmes de ponta a ponta jazzísticos, como "O Selvagem" (1953) e "Quero Viver!" (1958) —Leith Stevens e Johnny Mandel, respectivamente, foram encarregados. Às vezes, um jazzista negro escrevia um score inteiro, como John Lewis para "Homens em Fúria" (1959), mas só podia executá-lo com seu grupo, no caso o Modern Jazz Quartet e convidados, não com as sinfônicas.
Donde foi uma façanha, a de Quincy. Ele abriu as portas para que a música de cinema e TV ficasse ao alcance de todos. Hoje, em Hollywood, já nem sabem que havia aquela discriminação.
Apenas três anos depois, em 1967, Quincy esteve no Rio como convidado do 1º Festival Internacional da Canção. "Foca" do Correio da Manhã, num coquetel no Copacabana Palace, perguntei-lhe tudo sobre Clifford Brown, Dizzy Gillespie, Sinatra e outros gigantes com quem trabalhara. Nem uma perguntinha sobre "O Homem do Prego"!