Hoje é dia dos Reis Magos - história ou lenda que foi absorvida no calendário cristão, mencionada nos textos evangélicos, mas comum a diversas culturas e tradições. Pelo que se sabe, não chegavam a ser reis de qualquer reino da Terra, mas reis de um território sem fronteiras nem donos, o da magia. Ao contrário dos sábios pagãos que olhavam as tripas de aves e répteis, eles olhavam o céu e viam sinais -tal como o Paulo Coelho, que também é mago e vê sinais nas areias de Copacabana.
"Vimos a sua estrela no Oriente e viemos com presentes adorá-lo", foi assim que se explicaram a quem pediam informações sobre certa gruta nas imediações de Belém. Sem querer, causaram o massacre dos inocentes, 2.000 crianças foram degoladas por Herodes, na operação preventiva mais famosa da história.
Voltemos aos Reis Magos. Eles viram uma estrela no oriente e partiram. Uma lição para todos nós. Nem sempre partimos quando é necessário partir, ficamos na nossa, esperando que tudo caia do céu ou venha dos outros.
Mas não basta partir. Não se deve partir de mãos vazias, há que enchê-las daquilo que o evangelista chamou de "muneribus", que em latim significa "presentes". Segundo a tradição, eles levavam incenso, ouro e mirra.
Renan dizia que os Evangelhos são um auto pastoril de grande beleza e que as metáforas neles contidas são as mais importantes do Ocidente, embora localizadas no Oriente.
A lição dos reis magos é um apelo para a nossa vida comum, a vida de todos os dias. "Não pode alcançar os astros quem leva a vida de rastros, tem a poeira do chão" -isso não está nos Evangelhos, mas numa canção que Dalva de Oliveira cantava nos anos 50.
Devemos olhar para cima, como os Reis Magos. E partir, levando o incenso, o ouro e a mirra. Encontrando ou desencontrando o que procuramos, não estaremos de mãos vazias e inúteis.
Folha de São Paulo (São Paulo) 06/01/2005
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