No título da matéria de capa do número desta semana da revista Veja , vem a expressão "um golpe na imagem do parlamento". Sem dúvida, o presidente da Câmara dos Deputados é conhecido como " rei do baixo clero."
Essa expressão vem da Revolução Francesa, pois foi o baixo clero que concorreu para a vitória do Terceiro Estado. No caso, o baixo clero, ou a grossa maioria dos deputados, foi intensamente trabalhada por Severino Cavalcanti e o resultado foi sua vitória.
É o presidente da Câmara dos Deputados, o Legislativo, e tem grande força no regime. Severino é o segundo homem na hierarquia dos membros do parlamento, constitucionalmente pronto para exercer a função de presidente, quando este se afasta do poder, para uma viagem, que, como estamos vendo, inclusive com a compra de um Air Bus novo, é o de que mais gosta o presidente Luís Inácio Lula da Silva. Severino Cavalcanti vai ocupar a Presidência algumas ou muitas vezes.
Mas, o importante no parlamento brasileiro é que as leis saem dali e perfazem seu caminho até a sanção presidencial. Pode ser imediata a ação da Câmara ou deixar dormir durante anos uma lei que tem importância para o País e seu desenvolvimento. Citemos o exemplo do Código Civil, que dormiu o sono dos justos por vinte anos no Parlamento e saiu dessa letargia por iniciativa do senador Josafá Marinho, altamente capacitado.
Certo é, no entanto, que o deputado Severino Cavalcanti, com muita habilidade, promessa de aumento de salários e, provavelmente, outras promessas - como, por exemplo, o abono de faltas - é hoje o presidente da Câmara dos Deputados, num pleito que ninguém contava com sua presença amparada em probabilidade. Soube fazer-se presente e soube, mais ainda, trabalhar para ser eleito. Derrotou o PT, o presidente Lula e todos os que se lhe opunham. Na realidade, um vitorioso. E é só.
Diário do Comércio (São Paulo) 24/02/2005