Adolpho Bloch foi uma figura controvertida. Eram dele os maiores feitos de sua empresa, mas também algumas indelicadezas que o faziam temido por seus funcionários, cerca de cinco mil no auge da TV Manchete (década de 80).
Veio para o Brasil em 1922 com pais e irmãos, todos fugidos das perseguições que eram comuns na então União Soviética. Chegou a assistir a pogroms na sua cidade natal (Jitomir). Daí a sua aversão a injustiças, como costumava proclamar. Se cometesse alguma, pouco depois pedia desculpas. Tinha uma forma original de se penitenciar. Enviava um queijo francês ou uma garrafa de vinho de boa qualidade para a “vítima”.
De uma feita, na gráfica da Rua Frei Caneca, depois do almoço, flagrou um operário dormindo entre as máquinas. Acordou o indigitado aos berros e com muitos palavrões (ele sabia todos). O infeliz, depois do susto, partiu para cima do patrão e deu-lhe um soco que fraturou o enorme nariz. Na volta do Hospital Souza Aguiar, onde foi medicado, perguntaram ao Bloch iracundo se ele demitiria o funcionário. Já refeito da raiva costumeira, disse que não: “Ele não tem culpa. Fui grosso com ele. Vamos esquecer o assunto.”
Em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, estive com Adolpho no Estado de Israel. Visita inesquecível. Fomos recebidos no Instituto Weizmann de Ciências pelo seu então presidente, o cientista Albert Sabin, benfeitor da humanidade. Falamos horas sobre meios e modos de ajudar o Brasil a se livrar dos riscos da poliomelite. Sem nenhum interesse financeiro em jogo.
Adolpho amava o Brasil. Amigo de artistas e politicos, notabilizou-se pela fraternal ligação com o ex-presidente Juscelino, de quem nada recebeu. Em virtude da cobertura dada a JK, sobre-tudo após a sua morte, foi muitas vezes ameaçado de retaliação. Sua resposta era pronta: “Podem levar tudo com eles. Só vim da Rússia com um pilão, o resto foi conquistado.”
Na década de 40, trabalhou na Rio Gráfica Editora, tornando-se grande amigo de Roberto Marinho. Depois, retribuiu às getilezas recebidas, montando a gráfica da família Marinho. Tinha uma visão peculiar do que era patriotismo. Queria construir uma escola em cada estado brasileiro. Fez as duas primeiras, Joseph Bloch, em Teresópolis, esta com um lindo projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer. Doou ambas ao estado. Orgulhava-se de ver os nomes dos seus pais nas camisetas dos alunos. “Há coisa melhor?”, costumava perguntar após cada visita.
Sem ter filhos, gostava de ser chamado de Titio.
Não deixava que suas revistas se caracterizassem por críticas ferozes a quem quer que fosse. Adotou o mesmo procedimento nas suas televisões e emissoras de rádio. Contra-atacava com uma frase que ficou forte como marca da sua personalidade: ”Temos que ajudar o Brasil a crescer. Nossa riqueza é o otimismo.”
Adolpho Bloch morreu em novembro de 1995, aos 87 anos.