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Guga e Obama

 

TINHA ME programado para escrever nesta minha "Sexta-feira, Folha" sobre as eleições americanas. Os surpreendentes Estados Unidos, onde, quando as flores murcham, como ocorre com a imagem do governo Bush, nascem, em meio a uma visão sombria, novas fronteiras de idéias, onde se fala em esperança e mudança, um novo tempo Kennedy. Surge um furacão: um candidato negro, filho de muçulmano, de sobrenome Obama e, como se não bastasse, ajunta o nome hebraico de Barack, do profeta Baruc. Para fortalecer a imagem de um país de oportunidades, tem o contraponto de uma mulher brilhante que é Hillary Clinton e de um velho simpático, McCain, que esconde no gingado do falar o conservadorismo republicano. Isso faz anestesiar um pouco o debate sobre o desastre da Guerra do Iraque e a recessão que se aproxima.


Mas minha pauta foi derrubada pelas lágrimas do Guga. Eu vejo em todas as coisas o lado humano. Debaixo de cada personagem, político, artista, herói ou mártir, existe um ser que sente dor de dente, sorri nas aleluias e chora ao som dos sinos dobrados em Finados. Guga aliou sempre às glórias do esporte a simpatia de uma simplicidade caipira, com jeito de menino e de moço, de adulto e de criança. Acompanhei, como o Brasil inteiro, a sua tríplice coroa de louros em Roland Garros, onde ele viveu a alegria mais pura de um desportista completo. Seus ossos não suportaram tantas vitórias, e teve de dizer adeus. Todos nós entramos em seu coração e, solidários, revivemos seus triunfos.


Na semana de despedida de Guga, vem outro fato triste da patela do Ronaldo, que, mais uma vez, o ameaça de parar, ou enfrentar, entre a incerteza e mágoa, longos meses de recuperação. É dramático, como da primeira vez, o grito de dor e de desespero que invadiu o gramado do Milan.


Mas, para não ficar falando só sobre coisas dolorosas, acompanhei o presidente Lula em sua visita à Guiana Francesa para se encontrar com o presidente Sarkozy. A finalidade era discutir a ponte para ligar o Brasil à Guiana, que abre uma perspectiva de utilizarmos a transamericana, a estrada que já existe em grande parte, atravessando o platô das Guianas até o México. Muitos brasileiros moram em Saint-Georges-de-l'Oyapock, a cidade "au-delá du fleuve". E, no jeitão bem nosso, chamavam o presidente francês de "Charmosy...", picardia que envolvia sua fama de galante em alta. Sarkozy estava lépido e apressado, e dava a impressão de querer voltar logo para casa para rever sua Carla Bruni.


E, para finalizar, entre esporte e eleição americana, Guga, Ronaldo e Obama, Pelé também entra no meio das notícias anunciando sua separação da discreta Assíria.


Folha de S. Paulo (SP) 15/2/2008