Grande parte do Estado de São Paulo passou de proprietários particulares, ou da condição de devoluta, para a condição de terras griladas por quadrilhas que posavam de boas pessoas, mas, na realidade ou em sigilo, arrebatavam as terras que podiam. Quando faleciam os herdeiros, tinham uma fortuna nas mãos e as desenvolviam, aumentando o patrimônio de origem fraudulenta, ou, na melhor linguagem, roubadas de proprietários legítimos, ou herdeiros ou simplesmente também grileiros.
Mais de uma vez, quando eu ia a Garça com um amigo da família dos comerciantes maiores de Rio Claro, soubemos de fatos que só não eram mais alarmantes por já estarem todos nas cidades em processo de evolução - como Garça, Gália e outras - com as terras griladas e já produzindo café e tratando dos rebanhos de gado para os matadouros que se instalavam na região da chamada Alta Paulista. A grilagem era um fato corriqueiro contra o qual ninguém investigava, por ser habitual.
Foi como as cidades de Marília, fundada por Bento de Abreu Sampaio Vidal, cresceu para ser hoje uma das cidades mais florescentes do interior. É uma pequena capital, com tudo que há em São Paulo, apenas em menor quantidade e sem o desenvolvimento que se manifestou em São Paulo depois de 30. Mas, também Marília, como as cidades citadas e outras de que não me lembro o nome, tinham terras griladas e cartórios venais atestavam que eram herdadas, ficando, com essa providência, legalizadas.
Agora, temos a Amazônia cobiçada pelos grileiros. Um deles é o responsável pela morte da missionária Dorothy Stang, uma benfeitora para a qual essa qualidade não dizia nada ao grileiro. O que este queria era a terra, e a missionária cumpria a sua missão denunciando a grilagem e protegendo, como podia, os fracos, dominados pelos fortes daquela região ainda por ser conquistada pelo machado, pela foice e pelo sistema de grilagem, sem concorrente, para não morrer. Isto porque a vida não tem valor na região onde morreu a infeliz missionária. Em suma, a grilagem é uma realidade desde muitos e muitos anos.
Diário do Comércio (São Paulo) 28/02/2005