A leitora Simone nos pergunta sobre o significado da palavra 'gargalo' empregada em contextos do tipo 'gargalos da cadeia de inovação em fármacos' e 'a questão do câmbio é um gargalo importante que precisa ser analisado'.
Está patente que, neste emprego, 'gargalo' vale o mesmo que 'impedimento' ou 'dificuldade no andamento de algum processo',ou ainda'barreira', 'entrave'. Realmente, na área do Comércio e da Economia,'gargalo'pode assumir tais acepções. Pergunta-nos ainda se tal palavra também pode ser empregada no significado de 'oportunidade', isto é, com valor positivo. Cremos que não. Não vemos a palavra usada nesse emprego positivo; 'gargalo' é sempre um obstáculo à continuidade de um curso ou percurso que se quer normal.É o resultado de uma metáfora facilmente entendida: algo que tem um percurso fácil no interior de uma garrafa, mas que, com o afunilamento ou estreitamento do gargalo, já não escoará com a mesma facilidade para chegar ao fim do processo.
Parece ser uma metáfora de origem francesa, pois nesse idioma existe, neste mesmo significado, o termo 'goulot' ou 'goulet; 'gargalo' que, no sentido metafórico, é usado em Economia exatamente como o fazemos entre nós brasileiros. Parece que esse emprego metafórico, figurado, não é corrente entre portugueses. Em inglês a metáfora também ocorre, cremos que por influência do francês: 'bottleneck'. Não só palavras recebemos dos franceses; chegam-nos ainda expressões metafóricas e clichês, como fazer época', 'cair das nuvens', 'guardar o leito', 'em última análise'. É rico de informações neste assunto o livro 'Curiosidades verbais; de João Ribeiro, reeditado pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Emprega-se nas expressões, inicialmente em Matemática e depois na linguagem geral, a letra 'n' para representar uma quantidade indeterminada de objetos ('n carros', 'n máquinas', 'n pessoas; etc). Jorge Pereira, leitor desta coluna, deseja saber se nelas, em vez de 'n; se pode flexionar o 'n' no plural e escrever 'enes carros', 'enes pessoas'. Esse 'n; assim empregado para denotar quantidades indeterminadas, em geral de número elevado, não se pluraliza. Portanto, diz-se e escreve-se 'n carros; 'n pessoas'.
Já Diana está interessada em saber se vai poder continuar usando sem hífen 'auditor fiscal; ou se vai ter de passar a empregar com esse sinal, como já vê em alguns lugares.
Nomenclaturas desse tipo são relativamente recentes no idioma, o que passa a oferecer dúvida ao usuário, como ocorre à nossa leitora. Em rigor, expressões similares mais antigas eram usadas sem hífen, como 'professor catedrático' ou 'funcionário interino'. Com o correr do tempo, o quadro funcional aumentou, descortinaram-se novas diferenças, e passaram a aparecer expressões que se pautaram pelo uso tradicional sem hífen, enquanto outros inovaram com o emprego do hífen, à semelhança de 'ouvidor-mor' e aparentados, surgindo as duplicidades que desorientam nossa Diana e muitos outros usuários.
A novidade não mereceu ainda a voz oficial dos ortógrafos, o que explica o silêncio dos dicionários. Entretanto, sob o peso de fórmulas consagradas como 'ouvidor-mor; 'ano-luz; forma-piloto' e tantos outros, se vão generalizando grafias hifenadas que o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp) da ABL e da Academia das Ciências, de Portugal, agasalharam: secretaria-geral, secretário-geral,diretor-geral. Já vemos 'auditor-fiscal' em textos da Escola de Administração Fazendária, o que prenuncia vitória da grafia com hífen.
O Dia (RJ) , 30/1/2011