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Fragmentos de um diário inexistente – VI

 

A corrida de bicicleta


A vida é como uma grande corrida de bicicleta – cuja meta é cumprir a lenda pessoal.

Na largada, estamos juntos – compartilhando camaradagem e entusiasmo. Mas, à medida que a corrida se desenvolve, a alegria inicial cede lugar aos verdadeiros desafios: o cansaço, a monotonia, as dúvidas sobre a própria capacidade.


Reparamos que alguns amigos desistiram do desafio – ainda estão correndo, mas apenas porque não podem parar no meio de uma estrada; eles são numerosos, pedalam ao lado do carro de apoio, conversam entre si, e cumprem uma obrigação.


Terminamos por nos distanciar deles; e então somos obrigados a enfrentar a solidão, as surpresas com as curvas desconhecidas, os problemas com a bicicleta. E, ao cabo de algum tempo, começamos a nos perguntar se vale a pena tanto esforço.


Sim, vale a pena. É só não desistir.


***


Santo Agostinho e a lógica


Deus fala conosco através de sinais. É uma linguagem individual, que requer fé e disciplina para ser totalmente absorvida.


Santo Agostinho foi convertido desta maneira. Durante anos procurou, em várias correntes filosóficas, uma resposta para o sentido da vida. Certa tarde, no jardim de sua casa, em Milão, refletia sobre o fracasso de toda a sua busca. Neste momento, escutou uma criança na rua cantando: “Pega e lê! Pega e lê!”


Apesar de sempre ter sido governado pela lógica, resolveu – num impulso – abrir o primeiro livro ao seu alcance. Era a Bíblia, e ele leu um trecho de São Paulo – com as respostas que procurava.


A partir daí, a lógica de Agostinho abriu espaço para que a fé também pudesse participar, e ele se transformou num dos maiores teólogos da Igreja.


***


As Quatro Forças


O padre Alan Jones diz que, para a construção de nossa alma, precisamos das Quatro Forças Invisíveis: amor, morte, poder e tempo.


É necessário amar, porque somos amados por Deus. É necessária a consciência da morte, para entender bem a vida.


É necessário lutar para crescer – mas sem cair na armadilha do poder que conseguimos com isso, porque sabemos que ele não vale nada.


Finalmente, é necessário aceitar que nossa alma – embora seja eterna – está neste momento presa na teia do tempo, com suas oportunidades e limitações. Assim, temos que agir como se o tempo existisse, fazer o possível para valorizar cada segundo.


Essas Quatro Forças não podem ser tratadas como problemas a serem resolvidos, porque estão além de qualquer controle. Precisamos aceitá-las, e deixar que nos ensinem o que precisamos aprender.


***


Culpando os outros


Todos nós já escutamos nossa mãe dizendo a respeito de nós mesmos: “Meu filho fez isto porque perdeu a cabeça, mas no fundo é uma pessoa muito boa.”


Uma coisa é viver culpando-se por atos impensados que nos fizeram errar; a culpa não nos leva a lugar nenhum, e pode nos tirar o estímulo de melhorar. Outra coisa, porém, é viver se perdoando por tudo que fazemos; agindo assim, nunca seremos capazes de corrigir nosso caminho.


Existe o bom senso, e devemos julgar o resultado de nossas atitudes – e não as intenções que tivemos ao realizá-las. No fundo, todo mundo é bom, mas isso não interessa.


Disse Jesus: “É pelos frutos que se conhece a árvore.”


Diz um velho provérbio árabe: “Deus julga a árvore por seus frutos, e não por suas raízes.”


Diário da Manhã (GO) 18/3/2007