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Famílias sem comida

 

Quem freqüenta os restaurantes dos Jardins e não toma conhecimento, por exemplo, do Bom Prato, da rua Francisco Alvarenga, na várzea do Carmo, não faz idéia do acerto da pesquisa do IBGE, sobre as necessidades da família brasileira, mesmo numa capital de alto poder aquisitivo, como é São Paulo. Os restaurantes cheios, enquanto em numerosos lares o menu, se pode usar a palavra francesa, é dos mais pobres, de fazer pena aos corações sensíveis.


Segundo a pesquisa do IBGE, que todos os jornais publicaram no último dia 20, 85% das famílias brasileiras estão no vermelho, isto é, gastam mais do que ganham, ainda que tenham a ajuda suplementar dos filhos e a mulher trabalhe para ajudar no sustento do lar... Em face dessa notícia, comentada por toda a mídia, falada e escrita, a alma nos cai aos pés, pois o salário mínimo do partido salvador da pátria, o PT, não dá para dois dias de alimentação.


Se o salário mínimo não dá para dois dias de alimentação, e o resto, pergunto eu? E o resto, e as roupas, sem as quais não podemos viver, porquanto não somos índios do asfalto, e o lazer, uma vez por ano, ao menos, e o futebol, e a cerveja? Tudo somado estua na revolta dos pobres trabalhadores e empregados do setor secundário, como contabilistas, caixas de banco ou de empresas, e outras profissões que exigem paletó, gravata e uma aparência a mais ou membros respeitável perante os clientes da empresa onde trabalham.


É uma situação dramática, essa. Segundo o IBGE, as famílias que gastam mais do que ganham somam 41,41 milhões. O IBGE divide em minúcias essa importância e seu percentual. Daí, a pergunta: como vivem 84,45% das famílias, senão no vermelho, essa cor terrível, para todos nós, mas, sobretudo, para os pouco ganhadores em salários e sobretempos que o empregador deve pagar? Não prossigo. Deixo a resposta para os leitores que tiveram diante de seus olhos a grave conclusão da pesquisa do IBGE, num país que tem tudo para proporcionar uma vida feliz ao seu povo, mas é obstado por má política. Essa a verdade.




Diário do Comércio (São Paulo - SP) 25/05/2004

Diário do Comércio (São Paulo - SP), 25/05/2004