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Esconde-esconde com a lei

 

Desta vez é Marcelinho Carioca. Outro dia foi Eduardo Bolsonaro. Dois fujões que a Justiça levou anos procurando para entregar uma intimação a que respondessem por malfeitos, como uma cretinice que tivessem dito (Eduardo) ou um calote em alguém (Marcelinho). Nada de novo: esses elementos nunca são encontrados em seus endereços (sempre mais de um) e seus assessores (que eles têm em quantidade) não sabem onde estão ou quando voltam.

Supõe-se que os oficiais da Justiça sejam treinados para farejar pistas e analisá-las. Afinal, nenhuma cidade é tão grande para que alguém se esconda por tanto tempo. Algum dia ele precisará de quem lhe forneça dinheiro, compre cuecas ou obture seus dentes. Achando-se um desses, acha-se o indigitado. Mas os agentes parecem uns palermas, à espera de que o procurado lhes dê um alô ou marque um encontro pelo WhatsApp.

Na literatura policial, a capacidade de passar incógnito por baixo do nariz da lei é coisa de Raffles, Sherlock Holmes ou Arsène Lupin. Posso imaginar Eduardo Bolsonaro e Marcelinho rindo entre dentes ao passar pelos agentes sem disfarce e sem serem percebidos. Há algo de canalha na atitude de um elemento que brinca de esconde-esconde com a Justiça. Ele sabe que, cedo ou tarde, terá de aparecer. A graça está em protelar esse encontro pelo máximo de tempo, apenas pelo prazer de saber que está tapeando os otários.

Eu sugeriria aos responsáveis que, em vez de oficiais sonâmbulos, pusessem um detetive na pista do sujeito. Não precisa ser um xerloque. Qualquer pé-chato com prática em espiar por fechaduras e dar flagrantes de adultério fará o serviço.

Ou, mais simples, em troca de exclusividade na história, botar um repórter na busca do dito. E, da mesma forma, não precisa ser um baita repórter investigativo. Um estagiário em suas horas vagas na faculdade dará conta do recado.

 

Folha de São Paulo, 27/06/2024